tributária do Brasil, ela precisa de matéria
prima para produzi-los e não há
outro lugar a cultivar o tabaco, senão
os campos da Zona Rural; agora, se os PAIS obrigam
suas crianças a plantarem, colherem e armazená-los,
a principal culpa é deles. O Ministério
Público do Trabalho deveria acionar cada
pai e mãe que permite (ou obriga) seus
filhos a submeterem a este tipo de labor azedo,
cruel e infeliz; aliás, toda criança
com menos de 15 anos, uma vez que é tutelada
pela Mãe Pátria, deveria ter também
os cuidados dela.
O
representante patronal, neste caso, o Sindicato
da Indústria Fumageira, alegou estar quite
com suas obrigações e afirmou que
a situação é crítica
em qualquer canto do Brasil e não somente
no interior do Paraná. Se por um lado o
empresário tem culpa, pelos critérios
adotados na compra destas folhas de tabaco, ele
também tem certa razão, por mais
imbecil que possa parecer, porque eu garanto que
nenhum contrato lavrado entre os agricultores
e as indústrias, seja para compra ou cultivo
em regime exclusivo; ninguém seria idiota
ao ponto de afirmar que “as crianças
devem trabalhar para que haja o cumprimento dos
mesmos”.
Na
mesma matéria, os pais destas crianças
afirmaram que a indústria manipula cotações,
acordos, preços finais e eles ficam sempre
devendo ao final; justificaram que colocam seus
filhos para trabalharem por conta destes péssimos
acordos comerciais, apenas para aliviarem as dívidas;
mas se é isso mesmo que ocorre, basta mudar
de lavoura; que adotem outro tipo de cultivo,
afinal de contas, quando uma empresa começa
a apresentar dívidas, ou ela muda de ramo
ou fecha as portas; nas culturas agrícolas
de subsistência não deve fugir a
regra, mas ao invés de procurarem outro
tipo de ajuda, colocam seus filhos menores de
10 anos para sofrerem na pele toda a desgraça
trazida por eles como legado.
A
Rede Globo é sensacional quando “fuça”
situações inusitadas como esta,
mas às vezes eu me sinto magoado porque
eles fazem isso e esquecem rapidinho de tudo;
esqueceram, por exemplo, das crianças que
quebram pedras na Bahia e Pernambuco em troca
de comida (pouca e ruim); esqueceram das crianças
do Norte que ainda trabalham nos seringais; esqueceram
das crianças de Alagoas e São Paulo
que se mutilam no cultivo da cana-de-açúcar;
esqueceram dos meninos e meninas das periferias
das cidades litorâneas que vivem no lodo
dos mangues para levarem para casa a comida do
dia; esqueceram dos garotinhos que morrem nos
garimpos ilegais no Pará e Amazonas; das
crianças que trabalham nas carvoarias de
Minas Gerais e Mato Grosso que se submetem ao
calor infernal e respiram o pó do carvão;
lembram de vez em quando das crianças que
vivem a serviço do tráfico de drogas
no Rio de Janeiro e São Paulo; das garotinhas
de mesma idade do Ceará que são
obrigadas a prostituírem-se, isso mesmo,
crianças de 7 a 10 anos fazendo sexo abertamente
na Praia de Iracema em Fortaleza sob olhares curiosos
de Policiais Militares que só protegem
os aliciadores ou ainda de todas as outras crianças
que vivem nas ruas (literalmente), sobrevivendo
de pequenos furtos ou das sobras de algum restaurante
caridoso.
No
Nordeste, os pais oferecem suas filhas com menos
de 10 anos para famílias de fazendeiros
na esperança que elas consigam uma vida
melhor numa casa estruturada, da mesma forma que
eles também pensam que é menos uma
boca na hora do almoço; salvam-se duas
situações agressivas de uma única
vez. Estas meninas são postas nas casas
dos patrões como “empregadas domésticas”;
algumas (poucas) viram filhas; outras (muitas)
trabalham a vida inteira, servindo a todo tipo
de apetite e temperamento, sem nunca saberem o
que é a CLT ou o caminho de volta pra casa.
Isso ninguém denuncia, porque muita gente
importante vive este tipo de realidade.
A
questão é posta na mídia
como se esta criança fosse diferente daquela
criança de mesma idade. Eu me lembro de
quando eu ainda contava 10 anos, meu pai, muito
trabalhador e honesto, para ajudar no orçamento
baixo, matava ovinos no quintal de nossa casa
e me colocava para entregar o fruto daquela matança
aos vizinhos que compravam dele a carne exótica.
Nada daquilo me fez infeliz, até mesmo
porque eu tinha certeza que estava ajudando meu
pai e me orgulhava de levar às vezes a
metade de meu peso nas costas; nenhum dos trabalhos
sugeridos por meu pai, quando eu era criança,
me deixou lesões físicas ou psicológicas;
eu estudava como qualquer outra criança
de minha idade e comia com dignidade, mas eu queria
mesmo era brincar em meus horários vagos.
A
lei é dura aonde a Justiça não
chega e quando a imprensa visita locais como os
que eu citei e flagra situações
inusitadas como a visão de crianças
trabalhando o mundo exterior a aquela realidade,
como nós, meros cosmopolitas, reage de
modo espantoso; o espectador dos jornais de televisão
não imagina o que se passa no interior
do Brasil aonde a televisão ainda não
chegou. A situação é ainda
mais crítica do que tudo isso que já
foi apresentado nos últimos 20 anos em
todas as emissoras de TV, jornais e revistas,
basta visitar o Brasil como eu já visitei
para saber do que eu acuso.
Pode
doer em alguns, mas nenhum juiz, desembargador,
jornalista, advogado, promotor, Governador ou
Presidente da República sabe de fato o
que é o trabalho infantil no Brasil; porque
ele acontece diante dos olhos de todos e quem
são os "lucradores" de tudo isso?
Responda quem souber, ou puder! Nossos falastrões
que só querem aparecer na mídia
“falam demais e fazem de menos”; isso
é comum e com certeza, jamais deixará
de ser assim. Enquanto a Doutora Promotora afirmava
que adotará sansões para as empresas
de fumo; aquelas do Paraná, ela não
imaginou (ou se fez de rogada), que aquelas família
poderiam estar sem os seus cultivos e suas crianças,
ao invés de morrerem de trabalho, poderiam
morrem de fome ou ainda migrarem para as ruas
de uma grande cidade com seus pais, para pedirem
esmolas e furtar turistas, porque não têm
o que fazer.
Reafirmo
que nada justifica a condição de
uma criança ter que trabalhar para poder
comer, mas antes de denunciar qualquer ato de
trabalho infantil, se os representantes dos Poderes
Constituídos, deveriam apresentar uma proposta
séria e sustentável, para que as
famílias destas mesmas crianças
consigam ao menos um pouco de dignidade em suas
mesas; ninguém consegue brincar ou estudar
se sua barriga está vazia e para nossas
crianças poderem um dia sonhar com escola
e lazer, seus pais precisam ao menos disso, COMIDA
e infelizmente, em lugar nenhum do mundo, há
comida sem trabalho.
Você
pode não achar isso, mas o problema é
social e coletivo; não basta denunciar
ou escrever sobre o tema; não basta afirmar
compromissos em palanque ou aparecer na Rede Globo
para bradar sobre uma ação jurídica;
o problema é meu, é seu, é
do Brasil; enquanto eu estou aqui, escrevendo
de meu notebook com internet banda larga e tendo
dinheiro para pagar a escola e laser de meus filhos,
a Promotora terá no dia 30, R$ 17 mil em
sua conta salário; enquanto as famílias
daqueles infelizes garotinhos brasileiros que
trabalham feito adultos terão dívidas
e uma lavoura de fumo para tomarem conta, esperançosos
de que um dia aquele mesmo fumo possa ser transformado
em dinheiro que lhes pagarão ao menos o
pão da noite, para que eles não
durmam famintos. É bom pensar nisso!
Esta
história de aparecer na Rede Globo para
denunciar um tema polêmico me faz lembrar
o dia em que eu fui convidado para ingressar numa
instituição fraternal conhecida,
que promove jantares semanais em clubes e bons
restaurantes, para reunirem seus membros; num
destes jantares de luxo, nós comíamos
faisão ao molho de nozes e o Presidente
da fraternidade pediu a palavra para discutir
a fome dos que moravam nas favelas; o moço
queria discutir ações pertinentes
à fome de muitos e esqueceu que naquele
lugar havia personalidades abastadas, que comia
quitutes caros, regado a bom vinho branco chileno
e tendo que discutir A FOME. Eu sugeri que nossas
doações para os jantares fossem
transformadas em cestas básicas; sabem
qual foi o resultado? Não fui aceito como
membro...!
Senhores
Promotores de Justiça, procuradores em
geral, antes de Vossas Excelências citarem
os problemas, imaginem que os senhores são
parte deles e que os Senhores podem, e devem também
sugerir alternativas para a resolução
absoluta destes problemas; façam a Justiça
entender de uma vez por todas que o Estado é
responsável pela resolução
também e não somente pela punição;
tirem seus "trazeiros" pesados das cadeiras
confortáveis e justifiquem os salários
bem pagos que recebem ao final de cada mês,
faça chuva ou faça sol!
Carlos
Henrique Mascarenhas Pires
www.irregular.com.br
Agradecimentos
ao site Ipirá Negócios (www.ipiranegocios.com.br),
de Orlando Santiago Mascarenhas, da cidade de
Ipirá na Bahia, que gentilmente republica
alguns textos do Irregular e me proporciona o
recebimento de muitos e-mails gentis daquela cidade.