da realidade gritante da vida após
o fenômeno da morte. Fator decisivo
para que a valorização do
ser integral (corpo e espírito) dite
as regras dos governos das nações
no Terceiro Milênio:
Quando
garoto, devia ter 9 para 10 anos, assisti
com meu pai, Bruno Simões de Paiva
(1911-2000), no Rio de Janeiro, a um filme
sobre o 14 de Julho.
Nos
séculos 17 e 18, o absolutismo monárquico
atingira intensa projeção.
Como geralmente acontece nas relações
cotidianas, se afastadas do respeito ao
ser humano e seu espírito eterno,
houve por parte da monarquia francesa um
descaso tremendo com as necessidades básicas
do seu povo, cuja expressão mais
grotesca seria a frase que teria sido proferida
pela rainha Maria Antonieta (1755-1793),
ao ser informada por um dos cortesões
de que o barulho que a importunava vinha
das massas famintas clamando por pão:
“Por que não comem brioche?”
Tal
contingência desumana tinha de desmoronar
por força do curso inexorável
da História.
A
população de Paris, em 14
de julho de 1789, desesperada, marchou contra
a prisão, símbolo da tirania
de que desejava livrar-se.
Abrir
caminhos
Nesse
filme há uma cena impressionante.
Ela representa as pessoas que não
temem abrir caminhos: o povo estava de um
lado e aqueles que protegiam a Bastilha,
do outro. Entretanto, os que ameaçavam
invadi-la, com temor, não avançavam.
De repente, um homem destacou-se do meio
daquela multidão e atravessou a ponte
que cobria o fosso, sendo abatido por uma
descarga de tiros. Esse ato de coragem fez
com que os demais o imitassem e, assim,
conseguissem entrar na fortaleza. Parece
perspectiva romântica de um momento
trágico, porém retrata de
modo irretocável uma verdade: há
sempre alguém que se sacrifica pela
mudança substancial do status quo.
Não é preciso levar bala para
que as transformações ocorram.
Há outros choques que ferem mais
os vanguardeiros, a exemplo da incompreensão,
da inveja, do preconceito, da perseguição
e do boicote.
Na
seqüência do longa-metragem,
observamos a tomada da prisão, destruída
de cima a baixo.
Existem
aqueles que, tentando minimizar o fato histórico,
apresentam uma argumentação
frugal de que o famoso cárcere não
mais tinha relevância naquele período,
pois apenas uns poucos presos lá
se encontravam.
Ora,
o que o povo demoliu não só
foi a construção de pedra;
no entanto, o mais expressivo emblema, para
ele, do absolutismo dinástico!
E
a palavra dinastia pode, por extensão,
significar muita coisa, uma vez que funciona
tanto no feudalismo quanto na burguesia,
no capitalismo e no próprio comunismo.
Dinastia não implica somente a sucessão
por sangue. Existe uma pior: a da ambição
desmedida que arrasa o ser vivente, sob
qualquer regime.
Uma
nova civilização
Hoje
se faz necessário pôr abaixo
as bastilhas invisíveis, todavia,
de conseqüências bem palpáveis:
espirituais, morais, psicológicas,
do sentimento.
Façamos
florescer uma civilização
nova a partir da postura mental e espiritual
elevada de cada criatura. Já dizia
o filósofo: “A fronteira mais
difícil a ser transposta é
a do cérebro humano”. O homem
foi à Lua, mas ainda não conhece
a si mesmo.
O
Templo da Boa Vontade — há
pouco aclamado pelo povo como uma das sete
maravilhas de Brasília e que, segundo
dados oficiais da Secretaria de Desenvolvimento
Econômico e Turismo do Distrito Federal
(SDET), é o monumento mais visitado
da capital do país — convida
as criaturas a essa epopéia de empreender
uma viagem ao seu próprio interior.
Feito isso, sair até mesmo da Via
Láctea será facílimo:
desde que descubramos o âmago celeste
de nosso ser, pois, na verdade, para o espírito,
o espaço não existe.
Assegurou
Jesus: “Tudo é possível
àquele que crê” (Evangelho,
segundo Marcos, 9:23).
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