A
forte alta nos preços da carne bovina começa
a afetar os hábitos alimentares das famílias
baianas. Em Salvador, muitos consumidores já
estão substituindo a proteína por
outros produtos mais baratos, a exemplo de aves,
peixes e até soja. Segundo dados do Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos
(Dieese), o gasto com o alimento acumula alta de
32,13% nos últimos 12 meses. Somente em julho,
subiu em média 7,95%. Com o produto mais
caro, a venda da carne de boi já registra
queda de até 40% em alguns estabelecimentos
comerciais da capital.
O
proprietário do Supermercado Aratu, localizado
no final de linha da Federação, Valdo
Lima Costa, diz que a população está
“boicotando” o consumo de carne bovina.
Segundo ele, os consumidores baianos não
deixaram de comer a proteína animal, mas
reduziram pela metade o consumo. “Quem antes
comprava 10kg por mês, agora está comprando
5kg”, garante. O comerciante revela ainda
que há cinco meses vendia em média
dez bois por semana. Hoje, esse número caiu
para entre cinco e seis. “Um quilo de chupa-molho,
por exemplo, passou de R$2,89 para R$6, um reajuste
de 107,6%”, justifica Costa.
No Extra da Avenida Vasco da Gama, a situação
não é muito diferente. De acordo com
o gerente da loja, a venda de carne nos últimos
meses caiu em torno de 20%, enquanto que a de aves
congeladas registrou um acréscimo de, no
mínimo, 30% e os produtos da peixaria de
20%. “Vendíamos a carne moída,
por exemplo, por R$4,99 o quilo. Hoje, ele custa
R$10,99, ou seja, uma alta de 120,24%”, afirma
ele, deixando escapar que o seu churrasco de final
de semana agora é salmão grelhado,
cujo quilo está por R$8,90 contra os R$42
da picanha maturada.
A professora Patrícia Cruz conta que em sua
residência o consumo de carne bovina, até
três meses atrás, era diário.
Porém, com os constantes reajustes no valor
do produto, a presença do tradicional bife
se tornou cada vez mais uma raridade na mesa da
família. “Há alguns meses, o
quilo da alcatra custava em média R$9,50.
Hoje, o mesmo produto é vendido por aproximadamente
R$15, ou seja, R$5,50 mais caro – o preço
de 1kg de frango”, afirma a dona de casa,
acrescentando: “Se o valor da carne continuar
subindo vamos ter que optar pela soja, afinal, um
pacote, que rende muito, custa cerca de R$2.”
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Produtores justificam aumento
Que o preço da carne bovina está maior
os consumidores já sabem, mas a causa desses
reajustes ainda é um mistério para
muitos deles. O presidente do Sindicato das Indústrias
de Carne e Derivados da Bahia (Sincar), Júlio
César Farias, explica que essa alta já
era esperada, uma vez que o preço do produto
estava defasado há anos. “De dez anos
para cá, o salário mínimo passou
de R$70 para R$415, subiu cerca de 493%, enquanto
que o preço da arroba (15kg) do boi passou
de R$40 para R$80, uma alta de apenas 100% em dez
anos”, justifica ele.
Já o coordenador de pecuária da Secretaria
da Agricultura, Irrigação e Reforma
Agrária (Seagri), Alex Bastos, atribui essas
altas no preço a uma conjuntura nacional,
que está sofrendo uma demanda geral do mercado.
“Os preços baixos da arroba de boi
nos últimos anos provocaram o abate de fêmeas
em ritmo acima do normal. Com isso, houve redução
na oferta de bezerros e, conseqüentemente,
de bois prontos para o abate. A redução
da oferta de animais prontos para o abate vem pressionando
os preços, que já chegaram a R$80
por arroba”, complementa Bastos.
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