"Quando
você ama uma pessoa, a separação
é uma das maiores dores que se pode sentir.
Dói no nível da dor de rim, dor
de parto, dor de câncer. Dói tudo,
o pé, o fígado, tudo.", me
disse o cineasta e dramaturgo Domingos de Oliveira.
Conversando com o poeta Geraldo Carneiro sobre
o tema, ouvi a sua visão desse momento
tão complicado: "Há um biólogo
americano que diz que a paixão dura sete
anos, mas acho que é menos, talvez dois.
A partir daí você acessa aquela privação
de sentidos provocada pela paixão e começa
a perceber que o outro ser humano tem características
que não são suas. Aí se instala
o que chamo de luto do absoluto e começamos
a sofrer desesperadamente porque percebemos que
aquele encontro não é o definitivo."
O ator Cláudio Marzo também diz
o que pensa: "O que é mais difícil
na separação é superar todas
as emoções que levaram à
ela e voltar a se relacionar com o outro de maneira
real, como duas pessoas que já foram casadas
e agora estão separadas."
De
um jeito simples ou complicado, com raiva ou
tranqüilidade, o fato é que em todas
as partes do mundo as pessoas se divorciam.
E ao contrário da nossa cultura, que
faz do divórcio uma questão moral,
alguns povos encaram com naturalidade a dissolução
do casamento. Um bom exemplo são os mongóis
da Sibéria, que simplesmente adotam o
óbvio ao estabelecer que "se duas
pessoas não conseguem viver juntas, é
melhor que vivam separadas". E chegamos
ao extremo, na velha China, onde uma lei permitia
ao homem se divorciar da esposa tagarela.
Entretanto,
mesmo quando considerada necessária,
ainda que a relação seja insatisfatória
e o parceiro não preencha as necessidades
afetivas e sexuais do outro, a separação
não deixa de ser uma experiência
dolorosa, na maior parte das vezes. Mas, afinal,
por que é tão difícil se
separar? São várias as razões.
Desde
cedo somos levados a acreditar que a vida só
tem graça se encontrarmos um grande amor.
Se acontece, a expectativa é a de que
vamos nos sentir completos para sempre, nada
mais nos faltando. Isso é impossível,
evidente, mas as pessoas se esforçam
para acreditar e só desistem depois de
fazer inúmeras concessões inúteis.
E quando a frustração se torna
insuportável, então se separam.
Em alguns casos o ódio surgido entre
o casal resulta do sentimento de ver traída
a expectativa que tanto alimentaram. Imaginavam
que através da relação
amorosa se colocariam a salvo do desamparo,
e que encontrariam a mesma satisfação
que tinham no útero da mãe, quando
os dois eram um só.
Além
disso, deixar de ser amado ou desejado afeta
a auto-estima, e as inseguranças reaparecem.
A pessoa se sente desvalorizada, duvidando de
possuir qualidades. E para piorar tudo, na maioria
dos casamentos, homens e mulheres abrem mão
da liberdade e da independência, tornando-se
mais frágeis em caso de ruptura. Assim,
o parceiro rejeitado não é o único
a sofrer. Quem não deseja mais permanecer
junto fica ressentido por não sentir,
agora, prazer na convivência e responsabiliza
o outro por isso. A dificuldade de desfazer
a fantasia do par amoroso idealizado pode levar
um casal a constantes tentativas de restabelecer
o antigo vínculo, mesmo sabendo que não
existe nenhuma chance.
O
fim do casamento pode ser vivido como uma tragédia
se as pessoas acreditarem que é uma união
para a vida toda e que só é possível
ser feliz formando um par amoroso. Mas o sofrimento
será menor em algumas casos: se o casamento
for considerado um vínculo temporário
- enquanto for satisfatório para ambos;
se há perspectiva de uma vida social
interessante; se existe liberdade sexual para
novas experiências; se o fato de se estar
só não for sinônimo de desamparo.
Contudo, há também quem sinta
alívio na separação. Nesse
caso, a nova vida significa oportunidade de
crescimento e desenvolvimento pessoal, podendo
ser acompanhada de forte sensação
de renascimento.