Os brasileiros não devem assumir novas dívidas
enquanto o mercado financeiro internacional não
se acalmar. E isso só deve ocorrer com a
aprovação, pelo Congresso dos Estados
Unidos, do pacote de ajuda ao sistema financeiro
norte-americano. O alerta é do professor
Clélio Campolina, do Departamento de Ciências
Econômicas da Universidade Federal de Minas
Gerais.
“O
sistema financeiro americano está num grau
de instabilidade enorme e, na medida em que haja
injeção de recursos públicos,
isso pode estabilizar o sistema, estabilizar a economia.
Como os Estados Unidos tem um terço do PIB
mundial, isso também tem um efeito internacional
generalizado”, explicou em entrevista.
Por
mais que a equipe econômica do governo garanta
que o país vai bem e não sofre os
efeitos da crise financeira internacional, Campolina
garante que o Brasil não está imune.
“Se houver uma crise mundial generalizada,
imediatamente haverá uma redução
na demanda de exportações brasileiras
e isso afetará internamente a economia e
pode criar um clima desfavorável”,
avalia.
O
momento, segundo ele, não é de medo,
mas de prudência. “Não se deve
tomar nenhuma decisão arriscada. Não
é o momento dos cidadãos assumirem
novos compromissos. Tem que aguardar um pouco o
desenrolar dessa situação a nível
mundial e a repercussão que ela pode ter
no Brasil”, frisa.
O professor lembra, no entanto, que a situação
do país, hoje, é bem diferente de
há 10 anos. Como pontos a favor cita o superávit
na balança comercial e o elevado volume de
reservas. “Nossa situação é
mais confortável, mas isso não elimina
o fato de que a turbulência mundial também
nos atinge”, salienta.
Ele
manifesta particular preocupação com
o aquecimento do mercado imobiliário brasileiro
e a alta dos preços dos imóveis. Campolina
disse que os financiamentos de longo prazo estão
atraindo compradores e, numa eventual crise, pode
ser difícil cumprir com os compromissos assumidos,
como ocorreu no Estados Unidos. O mesmo vale, segundo
ele, para os financiamentos de bens móveis,
como carros.
“Isso pode gerar uma crise de confiança
no sistema e obrigar que o governo tenha que intervir,
como já fez no passado”, alerta.
O
professor lembra que intervenção semelhante
a norte-americana foi feita pelo governo brasileiro
em 1995 com a criação do Programa
de Estímulo à Reestruturação
e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional
(Proer) para salvar bancos que estavam quebrando.
“O Estado é chamado para salvar o sistema
econômico e a sociedade paga a conta”,
diz.
Justamente
para amenizar a reação da sociedade
norte-americana frente à ajuda ao setor financeiro,
o pacote aprovado ontem (1) pelo Senado dos Estados
Unidos incluiu garantias como o aumento de US$ 100
mil para US$ 250 mil do limite de depósitos
bancários que passam a ser garantidos pelo
governo. O novo pacote, que deve ser submetido nesta
sexta-feira (3) à Câmara de Representantes,
também prevê mais US$ 150 bilhões,
além dos US$ 700 bilhões propostos
inicialmente, e medidas como o corte de impostos
para classe média e incentivo a pequenos
empresários. “Tudo isso para reduzir
o custo que a sociedade vai pagar para salvar o
sistema”, resume.
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