Um impasse político-familiar marca a acirrada
eleição para prefeito de Salvador
no segundo turno. O deputado petista Sérgio
Barradas (BA) é irmão do atual prefeito
da capital baiana, o candidato peemedebista à
reeleição João Henrique –
que tem o ministro Geddel Vieira Lima, da Integração
Nacional, como padrinho político. O adversário
de João Henrique é o deputado Walter
Pinheiro (BA), companheiro da bancada petista de
Barradas na Câmara. João Henrique venceu
a primeira etapa do pleito com 30,97% dos votos
válidos, enquanto Pinheiro obteve 30,06%.
Ou seja: partidos adversários em plena disputa
voto a voto separam dois irmãos no plano
eleitoral. Mas, a despeito das divergências
partidárias, Barradas garante que a situação
é “normal”.
“Não
há política pessoal. É como
futebol, em que cada membro da família torce
para um time. Não há problemas. Quando
fizemos a opção de militância,
já sabíamos que o embate PT-PMDB no
segundo turno poderia acontecer”, completou
o deputado.
Ele
lembra de outro exemplo como o deles citando o ministro
da Justiça, Tarso Genro (PT), cuja filha
é líder do Psol na Câmara, a
deputada Luciana Genro (RS). A legenda foi formada
a partir de dissidência do PT e faz oposição
ao governo Lula.
Lula,
o fiador da aliança
Ao
Congresso em Foco, o deputado também disse
que o fato de ser correligionário político
do governador da Bahia, o petista Jaques Wagner,
não lhe traz complicações com
o irmão peemedebista. “Somos da base
de apoio dos governos Lula e Wagner”, justifica.
“Na
verdade, estou envolvido em Feira de Santana”,
justificou Barradas, referindo-se ao município
baiano com cerca de 584.497 habitantes, de onde
falava à reportagem. Com cerca de 52 mil
votos (19,12% dos votos válidos) e apoiado
por uma coligação de cinco partidos
(PT-PDT-PCdoB-PSC-PSB), Barradas ficou apenas em
terceiro lugar na corrida à prefeitura da
cidade, vencida em primeiro turno por Tarcizio Pimenta
(DEM), com 148.448 votos (54,05%).
Apesar
de não ter participado diretamente da eleição
em Salvador, Barradas não afastou a hipótese
de que a harmonia seja alcançada entre PT
e PMDB – vontade expressa do presidente Lula.
“Ele é o grande fiador dessa aliança.”
Aliás, o deputado projeta novas situações
de embate em que os partidos possam se aliar.
“O
que está acontecendo nesta eleição
vai acontecer em 2010, e não é nada
que não tenha acontecido no passado. Estamos
acostumados a essas situações”,
concluiu, lembrando que o país tem dimensões
“continentais” – o que leva a
divisões dos partidos em nível regional
– e que PT e PMDB podem se aliar regionalmente,
uma vez que já são aliados no plano
federal.
"Forças
do mal"
Mas
ignorando os laços de família, João
Henrique chegou a declarar que há “forças
do mal” no PT baiano – o mesmo PT do
qual o irmão é integrante. Se não
há problema familiar no contexto que separa
os irmãos Sérgio e João, ao
menos as declarações do prefeito da
capital baiana apontam para um atrito político
bem maior que uma simples divergência programática.
E
com um detalhe: o pai de Sérgio Barradas
e João Henrique, o senador João Durval
(BA), é do PDT, legenda com histórica
trajetória de oposição ao “carlismo”,
grupo político personalizado no ex-senador
e ex-governador baiano Antônio Carlos Magalhães,
morto em julho de 2007.
Em
abril deste ano, João Henrique acusou o PT
de traição, uma vez que, em 2006,
atendendo à sugestão do ministro Geddel
Vieira Lima, o PMDB apoiou a candidatura de Jaques
Wagner, que surpreendeu ao vencer a disputa para
o governo da Bahia. O próprio João
Henrique lembrou que poderia inclusive ter conquistado
a vaga no Executivo baiano.
“Abrimos
mão de uma candidatura em que todas as pesquisas
davam a João Henrique 40% da preferência
do eleitor. O então governador Paulo Souto
(ex- PFL) tinha 42%. E o candidato à época
do PT não chegava a 10%”, reclamou
o peemedebista, empregando discurso em terceira
pessoa para a auto-referência.
Reforço
do DEM
Na
corrida à prefeitura de Salvador, João
Henrique ganhou na última sexta-feira (10)
uma adesão significativa contra o adversário
petista, Walter Pinheiro. Depois de reunião
com integrantes do PMDB baiano, o líder do
DEM na Câmara, ACM Neto (BA) e terceiro candidato
à prefeitura mais votado no primeiro turno
(cerca de 350 mil votos), anunciou o apoio da legenda
a João Henrique, que herda assim o reforço
dos pequenos partidos que apoiaram ACM Neto no primeiro
turno (PRP, PSDC, PTdoB e PTN).
“O
prefeito vem melhorando sua administração
e, com propostas novas, pode fazer um segundo governo
ainda melhor do que o primeiro”, declarou
ACM Neto, acompanhado por João Henrique e
pelo presidente do DEM baiano, Paulo Souto. “E
nós estamos dispostos a ajudar.”
“Fizemos
um acordo em cima de propostas, que tiveram aprovação
de quase um terço do eleitorado. Afinal de
contas, a votação do deputado ACM
Neto foi de quase 28% dos votos de Salvador”,
justificou o candidato peemedebista, garantindo
que as propostas do DEM deverão ser imediatamente
incorporadas ao seu programa de governo no segundo
turno. (Fábio Góis)
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