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A
polícia brasileira é responsável
por uma parte considerável dos 48.000
homicídios registrados todos os anos
no país e se beneficia de uma "carta-branca
para matar", denunciou nesta segunda-feira
Philip Alston, o relator especial da ONU para
execuções sumárias.
"No Rio de Janeiro, os agentes da polícia
matam três pessoas por dia e são
responsáveis por mais de 18% de todas
as mortes", afirmou Alston.
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Policiais
observam o corpo de um traficante, morto em
confronto com a polícia na Favela da
Coréia, em Bangu, RJ |
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Trata-se de uma situação estimulada
pelo "sistema atual, que dá uma carta-branca
para as mortes cometidas pelos policiais",
afirmou o especialista em seu relatório ao
Conselho dos Direitos Humanos em sessão plenária
realizada em Genebra.
De fato, explicou, os homicídios cometidos
pelos policiais são considerados como respostas
a "atos de resistência" às
forças da ordem, e não são
tratados como crimes normais. Em São Paulo,
segundo a ONU, apenas 10% dos homicídios
são julgados por um tribunal.
"A incapacidade da polícia em proteger
a população civil dos bandidos se
deve principalmente ao fato de que os policiais
recorrem muito a uma violência excessiva e
contraproducente quando estão em serviço",
afirmou Alston.
Além disso, "muitos policiais buscam
aumentar seu magro salário trabalhando para
as organizações criminosas",
observou o relator da ONU, que também é
professor de direito na Universidade de Nova York.
"Um número considerável de policiais
levam uma vida dupla. Quando estão de serviço,
combatem os grupos de traficantes, mas, em seus
dias livres, trabalham à serviço do
crime organizado".
Alston afirma que não deveria haver "conflito
entre o direito de todos os brasileiros de estarem
seguros e livres da violência dos delinqüentes
e o direito de que a polícia não dispare
contra eles arbitrariamente".
"O assassinato não é uma técnica
de controle do crime aceitável ou efetiva",
afirmou, insistindo que é preciso acabar
com esses "atos de resistência".
"Qualquer assassinato da polícia deve
ser catalogado do mesmo modo que os outros, e investigado
com seriedade. O atual sistema é uma carta-branca
para os crimes policiais", afirmou.
Durante várias visitas aos centros de detenção
em julho de 2005, um grupo de especialistas da ONU
encontraram "condições miseráveis,
um calor sufocante, falta de luz e um confinamento
permanente, além de um nível generalizado
de violência e uma falta de vigilância
adequada que se traduz na impunidade", acrescentou.
O Brasil já foi alvo este ano de críticas
emitidas pelo Conselho dos Direitos Humanos, sobretudo
contra seu sistema judiciário, suas prisões
lotadas e casos de tortura cometidos por policiais.
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