Campeã do sexo sem vontade
 
Hélio Rocha | TRIBUNA DA BAHIA
 
Uma pesquisa realizada pela psiquiatra Carmita Abdo, do Hospital das Clínicas de São Paulo, revelou que metade dos brasileiros já fez sexo sem vontade, jogando por terra a fama de amante latino insaciável apregoada, principalmente, pela população masculina no país. O estudo, que colocou Salvador no topo do ranking do desinteresse sexual, foi realizado em 10 capitais onde foi constatado  que  pelo  menos 47% dos
entrevistados já transaram sem desejo.

Segundo a pesquisa, 43% dos homens e 51% das mulheres confessaram já ter mantido relações sexuais apenas para agradar os parceiros. Estresse, acúmulo de trabalho e o corre-corre do dia-a-dia são as principais causas da diminuição da libido do brasileiro, que vem trabalhando cada vez mais para sobreviver e tomando cada vez mais medicações como antidepressivos, calmantes e ansiolíticos, que são conhecidos inibidores dos hormônios sexuais.

Especialista no assunto, o médico psicoterapeuta e sexólogo Antônio Pedreira, ex-presidente da Sociedade de Sexólogos e Educação Sexual da Bahia (Sesesba), diz que a pesquisa não tem comprovação científica. "Como toda estatística, os números indicam uma tendência, e não uma certeza". Para ele, o sexo sem estímulo para o homem é bastante improvável. "Se não há o desejo masculino, nem Viagra resolve", disse.

Pedreira divide o sexo em três categorias: o sexo reprodutivo, o afetivo e o recreativo. "Com os modismos e estímulos da mídia, houve uma banalização sexual. O sexo recreativo foi supervalorizado a ponto do próprio beijo se tornar uma coisa banal entre os jovens; muitos casais fazem sexo sem se beijarem, como um mero exercício físico, e isso não sustenta uma relação duradoura", afirmou.

De fato, os jovens do século XXI encaram o beijo com muito menos intensidade que as gerações anteriores. O estudante Daniel Moura, 17 anos, conta como ele e sua turma de amigos se divertiram durante o Carnaval. "Fizemos uma competição para ver quem beijava mais, quem beijava a mulher mais bonita e quem encarava a mais feia. Só para contar vantagem", gracejou.

Historicamente, a mulher sempre esteve no papel submisso nas relações amorosas, e mesmo com os avanços das novas gerações, e a revolução feminina, a realidade mudou pouco, segundo Pedreira. "30% das mulheres não sabem o que é um orgasmo, enquanto 40% ainda precisam aprender a desenvolver o próprio prazer. Muitas ainda fingem orgasmos para agradar seus parceiros".

Pedreira dá algumas dicas para melhorar o relacionamento com seu parceiro ou parceira. "O sexo afetivo muito mais recompensante que o recreativo. Qualidade é melhor que quantidade. Quando estiver tendo um orgasmo, não feche os olhos, deixe-os bem abertos e olhe bem para a pessoa que está lhe proporcionando esse prazer, do contrário, o ato pode virar um movimento mecânico e masturbatório", alertou.

Para o sexólogo Ricardo C. Cavalcanti, o tratamento dos distúrbios sexuais tem que ser feito de forma multidisciplinar. "A cura não é responsabilidade só das especialidades médicas, mas também da antropologia. Todos têm o seu lugar de destaque", pontuou. Segundo Cavalcanti, pelas características próprias de cada especialidade, a urologia e a andrologia (especialidade que cuida da função sexual masculina e do sistema reprodutivo do homem) focalizam prioritariamente o pênis, da mesma forma que a ginecologia focaliza os genitais femininos.

"Os antropólogos defendem o princípio de que o comportamento humano é orientado por normas culturais. A endocrinologia se interessa pelos hormônios e os psiquiatras e psicólogos estão preocupados, sobretudo, com a questão emocional. A visão sexológica abraça todos esses campos", explicou.Para o sexólogo, todos os caminhos levam ao mesmo ponto. "Estamos no mesmo barco. Se quisermos tratar dos seres humanos temos que sair da cela de nossas limitadas especialidades, de nossa visão estreita e monocular, porque somos todos donos de pequenas verdades e temos de nos dar as mãos para que possamos construir a verdade maior", concluiu.
Saúde sexual no milênio

A verdade é que nenhum adulto é feliz com uma vida sexual deficiente, tanto que o site australiano WAS (World Association for Sexual Health) – Associação Mundial para a Saúde Sexual – um dos mais respeitados no mundo no assunto, lançou o manifesto: "A Declaração da Saúde Sexual para o Milênio", que traduziremos a seguir, com exclusividade para a Tribuna da Bahia:

"A promoção da saúde sexual é central para atingir a bondade, o bem-estar, para a conquista do desenvolvimento sustentável e mais especificamente para a implementação das Metas de Desenvolvimento do Milênio. Indivíduos e comunidades que vivenciam o bem-estar estão melhores posicionados para contribuir para a erradicação da pobreza individual e social. Nutrindo responsabilidades individuais, sociais e promovendo a interação social equilibrada, a promoção da qualidade da saúde sexual abriga a qualidade geral de vida e a realização da paz.

Por isso, urgimos todos os governos, agências internacionais, o setor privado, instituições acadêmicas, a sociedade em geral, e particularmente, todos os profissionais de saúde em todo o mundo para:

1. Reconhecer, promover, assegurar e proteger os direitos sexuais para todos.

2. Avançar em direção à igualdade entre o homem e a mulher.

3. Condenar, combater e reduzir todos os tipos violência sexual.

4. Promover acesso universal a uma compreensível educação e informação sexual.

5. Assegurar que programas de saúde reprodutiva reconheçam o papel vital da saúde sexual.

6. Estancar e reverter a epidemia de AIDS (HIV) e outras doenças sexualmente transmissíveis (DST)

7. Identificar, reconhecer e tratar problemas, disfunções e desordens sexuais.

8. Atingir o reconhecimento do prazer sexual como um componente da saúde holística e do bem-estar humano.

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