"São outros que merecem a excomunhão 
                                e nosso perdão, não os que lhe permitiram 
                                viver e a ajudarão a recuperar a esperança 
                                e a confiança, apesar da presença 
                                do mal e da maldade de muitos", escreve Monsenhor 
                                Rino Fisichella, um dos mais próximos colaboradores 
                                do papa Bento 16 e maior autoridade do Vaticano 
                                em bioética. 
                              Na 
                                avaliação do prelado, o arcebispo 
                                de Recife e Olinda, José Cardoso Sobrinho, 
                                foi apressado e deveria ter se preocupado primeiro 
                                com a menina. 
                              "O 
                                caso ganhou as páginas dos jornais somente 
                                porque o arcebispo de Olinda e Recife se apressou 
                                em declarar a excomunhão para os médicos 
                                que a ajudaram a interromper a gravidez. Uma história 
                                de violência que, infelizmente, teria passado 
                                despercebida se não fosse pelo alvoroço 
                                e pelas reações provocadas pelo 
                                gesto do bispo." 
                              Segundo 
                                Monsenhor Fisichella, o anúncio da excomunhão 
                                por parte de D. Jose Cardoso Sobrinho colocou 
                                em risco a credibilidade da Igreja Católica. 
                                
                              "Era 
                                mais urgente salvaguardar a vida inocente e trazê-la 
                                para um nível de humanidade, coisa em que 
                                nós, homens de igreja, devemos ser mestres. 
                                Assim não foi e infelizmente a credibilidade 
                                de nosso ensinamento está em risco, pois 
                                parece insensível e sem misericórdia", 
                                escreve o bispo. 
                              'Como 
                                um machado' 
                                Na avaliação do prelado, a prática 
                                do aborto neste caso não teria sido suficiente 
                                para dar um parecer que "pesa como um machado", 
                                porque houve uma contraposição entre 
                                vida e morte. 
                              Ele 
                                reconhece que, devido à idade e às 
                                precárias condições de saúde, 
                                a menina corria serio risco de vida por causa 
                                da gravidez. E justifica os médicos, que 
                                em sua opinião, merecem respeito profissional. 
                                
                              "Como 
                                agir nesses casos? É uma decisão 
                                difícil para os médicos e para a 
                                própria lei moral. Não é 
                                possível dar parecer negativo sem considerar 
                                que a escolha de salvar uma vida, sabendo que 
                                se coloca em risco uma outra, nunca é fácil. 
                                Ninguém chega a uma decisão dessas 
                                facilmente, é injusto e ofensivo somente 
                                pensar nisso." 
                              De 
                                acordo com o presidente da Academia Pontifícia 
                                para a Vida, segundo a moral católica a 
                                defesa da vida humana desde sua concepção 
                                è um principio imprescindível. 
                              O 
                                aborto não espontâneo sempre foi 
                                e continua sendo condenado com a excomunhão, 
                                que é automática. 
                                "Não era, portanto, necessária 
                                tanta urgência em dar publicidade e declarar 
                                um fato que se atua de forma automática, 
                                mas sim um gesto de misericórdia