A propaganda do Governo do Estado
contra o crack, que aponta 80% dos
homicídios da Bahia como derivados
do crack, é alvo de duras críticas
do professor de filosofia da Universidade
Federal do Recôncavo da Bahia (Ufrb),
Ricardo Henrique Andrade. Em artigo
publicado no A tarde deste domingo
(4), o docente argumenta que a publicidade
oficial volta a colocar no mesmo
saco os consumidores e traficantes
da pedra, droga de alto efeito viciante
e que é capaz de arruinar vidas
em velocidade recorde, ao passo
em que se recusa a tratar seriamente
o problema do consumo de drogas,
lícitas ou ilícitas. Para o filósofo,
mais uma vez se usa de recursos
de autoridades de números “no melhor
estilo ‘pânico e terror’” para ludibriar
o senso crítico. O professor traz
ainda uma dúvida sobre a veracidade
da informação. “(...)Sobre a autoria
desta pesquisa: quem a assina? Quais
foram os pesquisadores, a instituição
ou comunidade científica que a realizou?
Qual o grau de confiabilidade científica
que possuem esses dados? Quem os
aferiu? Sempre ouvi falar que a
maioria absoluta dos homicídios
não é sequer esclarecida pela polícia.
E eis que agora já conhecemos de
uma só vez o 'responsável' de pelo
menos 80% deles!”, alega. Além disso,
a publicidade não discute de quem
é a responsabilidade pelos homicídios,
se de quem os pratica e quem os
sofre, e de que não há um público-alvo
para a propaganda. “Para autoridades
que falam abertamente em saneamento
ao nomear suas ações, esta propaganda
servirá para desviar a atenção da
escandalosa afronta aos direitos
humanos a que assistimos diariamente:
a violência policial que é responsável
pela morte de jovens negros e pobres
na periferia.”
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