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Brasil tem o terceiro pior índice de desigualdade
no mundo e, apesar do aumento dos gastos sociais
nos últimos dez anos, apresenta uma baixa mobilidade
social e educacional entre gerações. Os dados
estão no primeiro relatório do Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) sobre América
Latina e Caribe.
Segundo o estudo, a região é a mais desigual do
mundo. "A desigualdade de rendimentos, educação,
saúde e outros indicadores persiste de uma geração
à outra, e se apresenta num contexto de baixa
mobilidade socioeconômica", diz o estudo
do órgão da ONU, concluído neste mês.
Entre os 15 países com maior diferença de renda
entre ricos e pobres, dez estão na América Latina
e Caribe. Na região, o Brasil empata com Equador
e só perde para Bolívia e Haiti em relação à pior
distribuição de renda.
Quando outros continentes são incluídos, a Bolívia
ganha a companhia de Madagáscar e Camarões no
primeiro lugar, e o Haiti tem ao seu lado, na
segunda posição, Tailândia e África do Sul. Para
o PNUD, esses países apresentam índices "muito
altos" de desigualdade.
Prejudicados
Os dados apontam ainda que as mulheres e as populações
indígena e afrodescendente são as mais prejudicadas
pela desigualdade social na região. No Brasil,
por exemplo, apenas 5,1% dos descendentes de europeus
vivem com menos de 1 US$ por dia. O porcentual
sobe para 10,6% em relação a índios e afros. O
PNUD lembra que os acessos à infraestrutura, saúde
e educação poderiam alterar esse cenário.
O relatório do órgão da ONU destaca ainda que
a maior dificuldade na América Latina é impedir
que desigualdade social persista no decorrer de
novas gerações. "A desigualdade reproduz
desigualdade, tanto por razões econômicas, como
de economia política", segundo um trecho
do documento.
Esses números não são nada positivos para o Brasil.
Cerca de 58% da população brasileira mantém o
mesmo status social de pobreza entre duas gerações,
enquanto no Canadá e nos países nórdicos, por
exemplo, esse índice é de 19%.
Escolaridade
Para o Pnud, a saída para resolver o problema
da desigualdade na América Latina passa por melhorar
o acesso das populações aos serviços básicos -
inclusive o acesso à educação superior de qualidade.
Segundo o estudo da ONU, é baixo também o crescimento
do nível de escolaridade entre pai e filho. E
esse resultado é influenciado pelo patamar educacional
da geração anterior. No Brasil, essa influência
chega a ser de 55%, enquanto nos EUA esse porcentual
é de 21%.
O Brasil, nesse quesito, perde para países como
Paraguai, Panamá, Uruguai e Jamaica. O estudo
do PNUD destaca que acesso a bens e serviços públicos
podem ajudar a aumentar essa mobilidade educacional.
A evolução do gasto público social é destacada
pelo órgão da ONU. Segundo o estudo, esse tipo
de despesa gira em torno de 5% do Produto Interno
Bruto (PIB) na região. Entre 2001 e 2007, o gasto
por habitante aumentou 30%, de acordo com o relatório,
sendo que a maior parte concentrou-se em segurança
e assistência social.
"É possível afirmar que os países da América
Latina e Caribe realizaram um importante esforço
para melhorar a incidência do gasto social",
diz a conclusão do estudo. |