por
viver e nem medir palavras. Sabia desde cedo que
ia deixar sua marca e não tardou a fazê-lo.
Graduou-se medico, assim como seu pai, pela Universidade
Federal da Bahia em 1943. Aos 27 anos de idade
casou-se com a professora Catarina Lima Santos,
sua companheira em 65 anos de matrimônio e fortaleza
em todas as tempestades de sua vida, uma constante.
Ainda no mesmo ano mudou-se para Ipirá e na medicina
dedicou-se a população com tal plenitude e abnegação,
qual só os iniciados nessa arte podem compreender.
Medicina não era a sua profissão, era a sua essência.
Não trabalhava como medico. ERA medico. Sempre
foi ao encontro dos desafios com cabeça erguida
e os passos largos do homem grande que foi. Quantas
famílias o receberam em suas horas mais negras
e se apoiaram na rocha do seu olhar seguro e seu
ombro forte? Foi Obstetra, Clínico, Cirurgião,
Psicólogo. Amigo. Foi sempre calmo. Sempre presente.
Em 1946 deu a Ipirá a Casa de Saúde Santa Helena
aonde praticou sem interesses maiores por mais
de 60 anos o seu sacerdócio, sempre vestido do
branco que tão bem representou seu caráter. Foi
médico com um amor de pai e gozou na sua profissão
a recompensa justa dos que respondem sem reservas
ao chamado da sua vocação. Nesta casa de saúde,
na qual tantos grandes nomes estiveram ao seu
lado: seu genro, e porque não chamá-lo de filho,
Roberto Cintra, sua irmã Maria Angélica, que para
sua grata surpresa se juntou a ele na sua paixão
de servir sempre e, onde hoje tantas angustias
encontram amparo e onde tantas dores encontram
alívio vive através de seu filho Luis Carlos,
e viverá eternamente o espírito de sua medicina.
Não limitou-se a servir a população como médico.
Foi conselheiro e companheiro daqueles que o procuraram
por seu julgamento honesto e sua aliança sólida,
foi amigo dos que se viram sozinhos em suas horas
de catástrofe, foi defensor dos que necessitavam
proteção, foi advogado dos que pleiteavam causas
justas e quantas delas quão remotas. Foi constante.
Foi servente. Foi a luta. Foi líder.
Para os seus filhos foi um herói. Lícia, Luiz
Carlos, Suzete, Delmo choram hoje a dor de sua
partida pro descanso tão justo. Choram também
Almir Miranda e Roberto Cintra. Estes tão filhos
quanto os outros, choram também tantos nesta igreja
e fora dela quem o tinham como um pai. Aqui também
gozou Delorme Martins a justa recompensa dos homens
de bem: Criou seus filhos a seu exemplo, como
ele homens e mulheres de bem que amam e servem
a Ipirá cada um deles com a mesma dedicação.
Viveu sem medo. Enfrentou vitórias e desgostos
com a mesma convicção. Sempre levantou-se depois
dos tombos que tomou. Mas importante, sempre estendeu
o braço aos que tombaram com ele. Foi prefeito
e transformou o pacato lugarejo em uma cidade.
Mais do que obras, Delorme deu a Ipirá a sua vida
e transformou o tal lugarejo em uma cidade tão
orgulhosa de seus méritos e de seus filhos quanto
ele o era. Méritos os quais nos permitem, graças
a ele, andar de cabeça erguida e responder a quem
quiser saber, em qualquer parte do planeta, em
qualquer língua que se pergunte: “Eu sou Ipiraense,
Eu amo Ipirá”.
Foi preso quando estourou a revolução. Foi candidato
a deputado pela oposição durante a ditadura sem
a menor chance de vitória. Aliás, foi eleito e
derrotado em diferentes vezes, mas sempre constante:
sempre foi a luta por Ipirá e pelos seus com a
certeza e o sono tranqüilo dos que o fazem por
amor a uma causa. Foi Delorme.
Amou a vida e todas as suas belezas. Aliás, pode-se
dizer dele sem ofender a biologia que viveu 92
anos de juventude. Nunca usou bengala. Mal usava
óculos. Só agora, teimosamente deixou grisalhear
os cabelos. Velhice, se é que teve, a teve em
casa, em boa saúde, rodeado da esposa, filhos,
netos e bisnetos que o adoravam pelo homem que
foi e pela vida que levou.
Velhice se teve, a teve na certeza de que a família
que ele inevitavelmente deixaria para trás perseveraria
no sorriso de Marcelinha e na algazarra de Pedro.
Nos cachinhos de Beatriz. Nos olhos profundos
de João Roberto e o jeito Moleque de Vitorinha.
Na inteligência de Renato e nas promessas de vida
de Catarina, Marcelinho e Robertinho. No milagre
de Maria. Velhice, se teve, a teve sempre com
um sorriso nom rosto. E este sorriso meus amigos,
vocês bem sabem do sorriso maroto do qual estou
falando, não graceia os lábios de quem viveu a
vida pela metade.
Então não estamos aqui para lamentar a morte de
Dr. Delorme Martins da Silva. Todos morrem. Estamos
aqui para celebrar a sua vida. Viveu bem Dr. Delorme,
um grande homem. Foi Feliz.
Homenagem da sua Esposa, Filhos, Netos, Bisnetos
e Genros.
Escrito por Danilo Martins. |