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Agressão à liberdade de expressão.
Jornalista é demitido e imprensa protesta.
 
   
 
     Orlando Santiago Mascarenhas
e-mail:  eventos@expovideo.com.br
15/02/2011
 
O Jornal A Tarde demitiu na tarde do dia (09) o repórter de política Aguirre Peixoto, considerado um dos melhores quadros do matutino.

A Tarde alegou que a exoneração se deu por conta de um erro do profissional, mas funcionários da empresa jornalística desconhecem tal falha.

A demissão  teria  ocorrido  por  pressão  de  um

poderoso grupo do mercado imobiliário de Salvador. Fontes do veículo confirmam que o dono de uma empreiteira pediu a cabeça do jornalista por conta de uma, ou duas, matérias assinadas por ele no diário.

A demissão de Aguirre causou perplexidade na redação do jornal. Circula pela internet uma carta aberta de repúdio à decisão do matutino, supostamente produzida por funcionários da redação do jornal A Tarde, repudiando a demissão do jornalista Aguirre Peixoto por pressão do mercado imobiliário baiano, sobretudo da capital, Salvador.

Em nota pública, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais da Bahia (Sinjorba) e a Associação Bahiana de Imprensa (ABI), condenaram a atitude do jornal e manifestaram solidariedade ao jornalista.

Segue abaixo texto da carta aberta de repúdio supostamente produzida pelos jornalistas da redação do Jornal A Tarde e Nota de protesto do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado da Bahia ( SINJORBA).
 
Carta aberta de repúdio à decisão do matutino supostamente produzida por funcionários da redação do jornal .
 
Hoje é um dia triste para não só para nossa história pessoal, mas também para A TARDE e, principalmente, para o jornalismo da Bahia. Um dia em que A TARDE, um jornal quase centenário e que já foi o maior do Norte e Nordeste e que tinha o singelo slogan "Saiu n´A TARDE é verdade" se curvou. Cedeu a pressões econômicas difusas e demitiu um profissional exemplar.

Aguirre Peixoto teve a cabeça entregue em uma bandeja de prata a empresas do mercado imobiliário em uma tentativa de atração/reaproximação com anunciantes deste setor. Tentativa esta que pode dar certo ou não. Uma medida justificada por um suposto "erro grosseiro" não reconhecido pela Diretoria de Jornalismo, pelo Editor-Executivo, pelo Editor-Chefe, por secretários de Redação, Editor Coordenador ou editores de Política.

Uma medida, enfim, que só pode ser entendida como uma demonstração de força excessiva, intimidatória à autoridade da Direção de Jornalismo, à Coordenação de Brasil e à Editoria de Política. Uma demonstração de força desproporcional, porque forte não é aquele que age com força contra algo ou alguém mais fraco. Forte seria enfrentar, como o jornalismo de A TARDE estava enfrentando, empresários que iludidos pela promessa do lucro fácil e rápido põem em risco recursos financeiros de consumidores, o meio ambiente da cidade e que aviltam, desta forma, toda a cidadania soteropolitana.

Aguirre era o elo mais fraco da corrente. Acima dele havia editores, coordenador, secretários de redação, editor-executivo, editor-chefe, diretor de Jornalismo. Todos, em alguma medida, aprovaram a pauta, orientaram o trabalho de reportagem e autorizaram a publicação da reportagem. Isso foi feito sem irresponsabilidades, pois não foi constatado nenhum erro, muito menos um "erro grosseiro". Se algum erro foi cometido, o erro foi o da prática do jornalismo, uma atividade cada vez mais subversiva em época em que propositadamente se misturam alhos e bugalhos para confundir, iludir, manipular a opinião publica, a sociedade, a cidadania. É de se estranhar que uma empresa que se coloca como defensora da cidadania aja de tão vil maneira contra um de seus melhores profissionais.

Recapitulando, Aguirre foi pautado para dar sequência às reportagens que fazia sobre a Tecnovia (antigo Parque Tecnológico). O fato novo era uma liminar concedida pela 10ª Vara Federal em que cassava multa aplicada ao empreendimento pelo Ibama. Era essa a pauta. No dia seguinte, a Tribuna da Bahia publicou matéria em que dizia que a liminar (decisão que pode ser revista) acabava com o processo criminal contra o empreendimento, que envolve Governo do Estado e duas poderosas construtoras. A matéria de A TARDE - dentro do padrão de qualidade que um dia fez deste um jornal de referência - ouviu o MPF e mostrou que se tratavam de dois processos distintos. O da multa, que foi cassada liminarmente e que o MPF afirmava que recorreria da decisão; e o criminal, que continuava em tramitação normal. A matéria de A TARDE estava tão certa que o MPF, posteriormente, publicou nota oficial na qual desmentia o teor da reportagem da Tribuna da Bahia (jornal que serve a interesses não republicanos, para dizer o mínimo). Essa foi a razão suficiente para o repórter ter a cabeça entregue como prêmio a possíveis anunciantes.

O interesse público? A defesa da cidadania? O histórico ético, de manchetes exclusivas, de boas e importantes reportagens? Nada disso importou a A TARDE. Importou a satisfação a um grupo de empresários, a uma, duas ou três fontes insatisfeitas. Voltamos a tempos medievais, quando fontes e órgãos insatisfeitos mandavam em A TARDE, colocavam e derrubavam profissionais. Tempo em que o jornalismo era mínimo.

"Jornalismo é oposição. O resto é balcão de secos e molhados". Essa é uma famosa frase de Millor Fernandes. Dispensado o radicalismo dela, é de se ter em mente que Jornalismo é uma atividade que incomoda. Defender o conjunto da sociedade, seu lado mais fraco, incomoda. É preciso que a Direção de A TARDE entenda que a sustentabilidade do negócio jornal depende do seu grau de alinhamento com a sociedade civil (organizada e, principalmente, desorganizada). A força de um veículo de comunicação não está nos números de circulação ou de de anunciantes, mas nas batalhas travadas em prol dos direitos coletivos e individuais diariamente aviltados pelo bruto e burro poder econômico.

Credibilidade é um valor que se conquista um pouco a cada dia e que se perde em segundos. E, graças a ações como esta, a credibilidade de A TARDE escorre pelo ralo a incrível velocidade, assim como sua liderança, assim como seus anunciantes. Sem jornalismo, o jornal (qualquer jornal) pode sobreviver alguns anos de anúncios amigos. Mas com jornalismo, um jornal sobrevive à história.
 
Fonte: Jus Brasil
 
Nota de protesto do SINJORBA
 
A diretoria do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado da Bahia (SINJORBA) protesta veementemente contra a demissão de Aguirre Peixoto, que já é alvo de ações judiciais, criminais e cíveis, por sua coragem em denunciar erros e atentados contra o meio ambiente na cidade de Salvador em reportagens publicada sobre a construção do Centro Tecnológico do Governo do Estado, na Avenida Luis Viana Neto (Paralela), numa forma de punição por enfrentar forças tão poderosas. Agora vem o golpe final, desferido justamente pelo Jornal A TARDE, a empresa que inicialmente autorizou a publicação do material e que deveria protegê-lo de todas as formas para que não maculasse sua história quase centenária, como representante dos interesses da sociedade baiana.

Fazer jornalismo é uma opção muito difícil na vida de qualquer pessoa, apesar de todo o glamour que cerca nossa profissão. É preciso ter uma paixão incrível pela vida, pelos indivíduos e principalmente pela verdade. E nem sempre a retorno é agradável e positivo, fazendo com que muitos desistam.

Nos últimos anos a redação de A TARDE vem sofrendo todo tipo de pressão interna, com o objetivo de adequar a reportagem a interesses comerciais e de marketing. Nada poderia estar mais distante do que fazer o bom jornalismo, onde precisamos nos colocar ao lado dos reais interesses da sociedade. Nessa batalha vimos muitos bons colegas serem retirados sob os mais variados argumentos. Mas, para a surpresa dos encarregados de comandar essa operação de aviltamento e acovardamento dos jornalistas, a cada nova leva de jovens contratados, difícil é não encontrar quem não tenha em si o gérmen da busca constante pelo que é certo e pelo que atenda ao real interesse da sociedade.

Agora, retiram da redação um desses novos colegas, numa demonstração de que é preciso cortar rebentos cada vez mais novos, contaminados pelo bom fazer jornalístico que inclui as palavras ética, coragem, profissionalismo. Ninguém abraça essa profissão para ter uma vida normal, mas sim para fazer a diferença num mundo onde o individualismo pesa, mas onde nunca foi tanto necessário combater as pressões comerciais e publicitárias que tentam modificar nosso jeito de viver, sem pesar as consequências para nosso futuro próximo.


Nosso colega Aguirre Peixoto está passando pela prova de fogo que todos nós jornalistas, passamos em algum momento de nossas vidas e sai vitorioso, preparado para as novas batalhas, que, como profissional competente que vem se mostrando, buscará a cada momento de sua trajetória profissional que está apenas começando.
 
Salvador, 08/02/2011.
Marjorie da Silva Moura
Presidente do SINJORBA
 
Fonte: Sindicato dos Jornalistas da Bahia
 
 
 
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