O
prefeito Marcelo Brandão não inventou
a roda, mas viveu seus três dias de apoteose
e, como um maestro extasiado, em seu grande
momento de glória, foi um comandante eufórico
de cima do trio, em movimentos frenéticos
com as mãos, mandava a massa popular que
se aglomerava no circuito Henrique Maciel
sair do chão. E a massa obedecia.
Bell Marques é um dos monstros sagrados
da Bahia como puxador de trio, se for
contratado para tocar na fazenda Catende
enche a malhada e a caatinga de gente.
Bell mostrava maestria e a cada acorde
emocionava, não só ao prefeito, mas também
ao povão. Bell foi e voltou pelo circuito
e, com 240 mil reais na conta corrente,
finalizou o show. Estava feliz por estar
tocando e trazendo alegria para Ipirá.
A cada acorde levantava a massa emocionada
e vibrante: “Agora, meu povo, é Voa, Voa”
e mandou ver. O povão avoou. Era um pedido
da super-estrela. E a massa obedecia.
Era uma multidão em êxtase e sugestionada
a sair do chão. Quem extrapolava e saía
além do chão, caía no processo educativo
da Polícia Militar, por meritocracia ou
por estar no lugar errado, tomava a revorbosa
de uma fantada pelo lombo que entortava
até o pensamento de quem apanhava e de
quem olhava. Cada qual ensina com o que
tem.
A segurança é fator primordial nestes
eventos e a truculência tem envergadura
para se impor e não se dobrar, com farda
ou sem farda. Estamos longe de uma sociedade
sem polícia e sem vagabundagem; nem pincel
atômico, nem cacetete têm sido suficientemente
eficiente no seu percurso modelador, porque
estamos enfiados numa sociedade estratificada.
Mas, voltando ao assunto em pauta.
Tinha gente de dá de pau. Essa quantidade
não se discute, se agradece às pessoas
da região que aqui compareceram. O fã-clube
de Bell da cidade de Camaçari estava presente,
pelo menos na figura do seu presidente,
os outros esqueceram as faixas, mas isso
não tem a menor importância, nem tampouco
se discute qualquer incidente como forma
de empanar o brilho da festa. São acontecimentos
acometidos por falha humana, que merecem
apuração dos fatos. Tem que haver a serenidade
necessária nesses momentos.
O que eu quero abordar neste comentário
é que Ipirá não atingiu o grande objetivo
traçado pelo prefeito Marcelo Brandão,
que seria a alavancagem da economia local.
Podem começar a inventar conversa, porque
não foi o sucesso de vendas anunciado
para o setor lojista. Não engarrafou o
setor hoteleiro e a vendagem das barracas
no circuito não atingiu o patamar idealizado
nas nuvens. O comércio que vai bombar
em conseqüência da micareta é o que vende
celular, por motivos óbvios e relacionados
às ocorrências e BOs.
Aqui a vaca geme. A prefeitura gastou
mais de um milhão e não conseguiu arrecadar
dois tostões. O dinheiro investido pela
prefeitura foi todo para fora; o investimento
com e para pessoas do município foi muito
pouco. É para que não se fique no achismo
que a prefeitura tem que divulgar uma
planilha com todo o custo verdadeiro do
evento. Aí vai começar a discussão com
base em números reais.
Não é tarefa fácil transformar Ipirá em
pólo turístico. É praticamente impossível.
O turista do evento-festa é regional,
em sua grande maioria chega na hora da
festa e retorna assim que termina; tem
um poder de consumo restrito. É só fazer
uma pesquisa do perfil para ver se bate
nestas condições ou não.
A festa do interior é o São João, fato
comprovadíssimo. Micareta ficou com um
custo super elevado e com resultados pífios.
A economia do município de Ipirá não será
alavancada com festa, festejo ou festança,
que é divertimento para as pessoas e tem
que acontecer. O município de Ipirá tem
que juntar esforços e energia no sentido
de canalizar o setor produtivo para gerar
e distribuir riquezas de forma que contemple
e satisfaça as necessidades e anseios
de sua população.
Festa faz alegria e passa. A jacuzada
sabe fazer grandes festas; a macacada
também sabe. E daí? Segunda-feira é dia
de cumprir os compromissos; não sabemos
nem se é o melhor dia de fazer decretos
de calamidade pública. Quarta-feira é
dia do aió e do bocapio. A realidade de
Ipirá gosta de mostrar as víceras.
Não sabemos se haverá soro fisiológico
para lavar as feridas na UPA. Não haveremos
de saber se a SAMU estará atendendo ao
ipiraense. Não temos nenhuma garantia
de que a cerca do Puxa será retirada em
um ano; não sabemos se o Mercado de Arte
vai deixar de estar naquele estado, ainda
nesta gestão; não temos nenhuma certeza
do início, meio e finalização da reforma
da Casa do Estudante em Salvador; não
temos a garantia de que serão consertados
os assentos dos ônibus que levam os universitários
para Feira de Santana. Vamos parar por
aqui.
Pelo menos, temos a certeza de como pensa
a cabeça do prefeito de Ipirá; já está
matutando como realizará o São João de
Ipirá e não duvidem não, porque ele vai
fazer um São João maior do que o de Campina
Grande. Pense num prefeito arretado! Pensou
em Raquel Lira, prefeita de Caruaru, no
Agreste de Pernambuco, onde acontece o
melhor São João do Nordeste.
Por Agildo Barreto
/ em 23 de abril de 2017 |