Geddel
intermediava silêncio de Cunha, diz Joesley
17/06/2017
O empresário Joesley Batista, sócio do
grupo J&F, disse que o ex-ministro
Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) era "o
mensageiro" do presidente Michel
Temer, responsável por informá-lo sobre
a situação de supostos pagamentos feitos
para silenciar o ex-deputado Eduardo Cunha
(PMDB-RJ) e o doleiro Lúcio Bolonha Funaro,
ambos presos desde o ano passado pela
Lava Jato.
A informação faz parte da entrevista que
Joesley concedeu à revista "Época",
divulgada nesta sexta (16).
O ex-ministro, segundo Joesley, mantinha
contato quinzenal com ele para saber sobre
os repasses.
"E toda hora o mensageiro do presidente
me procurando para garantir que eu estava
mantendo esse sistema", disse o empresário.
"Geddel [era o mensageiro]. De 15
em 15 dias era uma agonia terrível. Sempre
querendo saber se estava tudo certo, se
ia ter delação, se eu estava cuidando
dos dois. O presidente estava preocupado.
Quem estava incumbido de manter Eduardo
e Lúcio calmos era eu", declarou.
Joesley disse não ter dúvidas de que Temer
estava consciente do esquema. "Sem
dúvida [Temer sabia dos pagamentos]. Depois
que o Eduardo foi preso, mantive a interlocução
desses assuntos via Geddel. O presidente
sabia de tudo", disse.
"Eu informava o presidente por meio
do Geddel. E ele sabia que eu estava pagando
o Lúcio e o Eduardo. Quando o Geddel caiu,
deixei de ter interlocução com o Planalto
por um tempo. Até por precaução."
O empresário disse que Temer tinha ascendência
sobre Cunha e o acusou de chefiar uma
organização criminosa. "A pessoa
à qual o Eduardo se referia como seu superior
hierárquico sempre foi o Temer",
disse o empresário, na entrevista.
"O Temer é o chefe da Orcrim [sigla
para organização criminosa] da Câmara.
Temer, Eduardo, Geddel, Henrique [Alves],
[Eliseu] Padilha e Moreira [Franco]. É
o grupo deles. Quem não está preso está
hoje no Planalto. Essa turma é muita perigosa.
Não pode brigar com eles", prosseguiu
o empresário.
Joesley afirmou que recebia pedidos do
presidente. "O Temer não tem muita
cerimônia para tratar desse assunto. Não
é um cara cerimonioso com dinheiro",
disse. "Acho que ele me via como
um empresário que poderia financiar as
campanhas dele -e fazer esquemas que renderiam
propina."
O empresário citou um caso específico
na entrevista. "Teve uma vez também
que ele me pediu para ver se eu pagava
o aluguel do escritório dele na praça
[Panamericana, em São Paulo]", disse.
Joesley diz que na ocasião se fez de desentendido
e não atendeu à solicitação.
Joesley afirmou que recebia pedidos de
dinheiro de Cunha e Funaro vinculados
a vários assuntos e citou como exemplo
uma solicitação de Cunha de R$ 5 milhões
para evitar a abertura de uma CPI que
atingiria a JBS. Na ocasião, o empresário
disse que não pagou.
Os pedidos de propina, segundo ele, continuaram
mesmo depois da prisão do ex-deputado.
ACORDO POLÊMICO
Joesley Batista assinou um acordo de delação
premiada com a Procuradoria-Geral da República,
que foi homologado pelo ministro do STF
(Supremo Tribunal Federal) Edson Fachin,
relator da Lava Jato no tribunal.
O acordo recebeu críticas por conta dos
benefícios concedidos ao empresário, que
não cumprirá pena nem mesmo será processado.
Ele e a família tiveram autorização para
viajar aos EUA em jatinho da empresa.
A JBS, frigorífico do grupo J&F, está
sendo investigada pela CVM (Comissão de
Valores Mobiliários) em cinco processos
administrativos para apurar supostas irregularidades,
como o uso de informações privilegiadas
em negociações de dólar futuro e ações.
Na entrevista, o empresário diz que não
manipulou o mercado: "A CVM pode
investigar e temos tranquilidade em responder.
São operações feitas absolutamente dentro
das regras", declarou.
Ele também afirmou que se viu forçado
a gravar Temer para provar que estava
sofrendo achaques, e refutou que o áudio
tenha sido alterado. "Zero. Zero.
Gravamos e entregamos. Podem fazer todas
as perícias do mundo", afirmou.
PT E PSDB
Na entrevista, Joesley também faz acusações
ao PT, que, segundo ele, inaugurou o esquema
que perdurou sob Temer. Seu interlocutor
para o pagamento de propina seria o ex-ministro
da Fazenda Guido Mantega.
"Quando era efetivado o negócio,
saía uma parcela, eu creditava o valor
da propina na conta do Guido na Suíça",
declarou. A diferença, segundo ele, era
que a abordagem do PT era "menos
agressiva".
Ele poupa o ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, afirmando que nunca teve
conversa "não republicana" com
o petista.
Explica também por que gravou o senador
Aécio Neves (PSDB-MG), hoje afastado do
cargo por decisão do Supremo.
Aécio, segundo ele, era a alternativa
de poder. "Teve 48% dos votos dos
brasileiros [na eleição de 2014]. E tinha
entrado no governo do Temer", afirmou.
O empresário declarou ainda que não tem
mais revelações a fazer e que prestaria
depoimento a uma CPI para investigar suas
acusações.
Nenhum dos citados por Joesley na entrevista
quis se manifestar até o momento.
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