Lembro-me que em 2005, ano em que eu fui
morar em Salvador para dar continuidade
aos meus estudos, havia uma parcela bastante
significativa de estudantes na minha turma
do cursinho pré-vestibular: “Grandes Mestres”
a comentar que iriam prestar vestibular
para o curso de Medicina, contudo o que
me interessava era ouvir os porquês dessa
escolha.
Em nenhum dos discursos proferidos pelos
estudantes foi inserida uma importante
palavra. Essa palavra vem do verbo vocare,
que significa “Chamar”. Ou seja, a vocação
é um chamado interior. Inclusive, muitos
estudantes tapam seus ouvidos para não
escutar essa voz interior e por uma razão
muito simples. Criou-se no senso comum
uma espécie de hierarquia acadêmica onde
o curso de Medicina é citado como se fosse
o pico do Monte Everest. E as demais áreas
iriam ocupando uma importância menor na
escala de valor criada pela sociedade,
pois dentro da academia o discurso é outro.
Sendo importante ressaltar que conforme
esse pensamento, quem opta pelos cursos
da área de educação, que ocupa a posição
dos cursos menos valorizados, escolheu
ser um “sofredor”.
Vários formadores de opinião da área de
filosofia tem nacionalidade alemã. O artista
Caetano Veloso na música “Língua” parafraseia
um pensamento do filósofo Martim Heidegger
quando diz: “Só é possível filosofar em
Alemão”. Nota-se que a Alemanha é um dos
países que mais investe em educação chegando
a ocupar a 3ª posição em relação ao salário
de educadores e isso tem relação direta
com o fato de o expressivo número de pensadores
serem de lá. O estudo de área de Filosofia
no Brasil é tão desvalorizado que, normalmente,
quem ensina Filosofia nas escolas públicas
é um professor com graduação em qualquer
área, menos em Filosofia. Ou seja, o problema
não está na área de educação e sim na
maneira como os políticos da nação tratam-na.
Insere-se que como o foco dos estudantes
que prestam vestibular para Medicina é
a profissão, não vamos encontrar facilmente
o amor demonstrado pelo médico Hunter
Doherty mais conhecido como “Patch Adams”
que escolheu fazer medicina por vocação.
No livro “Conversa sobre Educação” do
escritor Rubem Alves, tem um trecho de
um conto intitulado: “A lição de Nóe”
em que essa diferença de termos é bem
explanada “A experiência do amor é a experiência
de se encontrar com uma imagem que mora
dentro da gente. Desde muito antes. No
encontro, a alegria acontece. O mesmo
é verdade da vocação. Ela nasce com a
gente, misteriosamente. Ela é o nosso
caso de amor com algo que se faz. A diferença
entre quem trabalha por profissão e quem
trabalha por vocação: o primeiro trabalha
pelo ganho; o segundo seria capaz de pagar
para poder fazer o seu trabalho. Trabalha
como quem faz amor, como quem brinca”.
Autor: Rodrigo Santana Costa
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