Um dos maiores questionamentos da Filosofia
é a respeito do que é realmente a vida.
E, definitivamente, o mistério envolve
tudo. A transcendência é o nosso destino,
mesmo desconhecendo sua natureza. Afinal,
já dizia Pierre Teilhard de Chardin, “nós
não somos seres terrenos vivendo uma experiência
espiritual, mas somos seres espirituais
vivendo uma experiência terrena.”
Diante do grande questionamento da natureza
da vida e da sua resposta racionalmente
insolúvel, a brevidade exige uma urgência
existencial de imprimir nela significado,
”quem sabe faz hora e não espera acontecer”.
O que fazemos com vida é o maior desafio
de qualquer ser humano.
Faz um ano que fomos surpreendidos pela
trágica e repentina perda de Ademildo
Almeida. Um político na acepção da palavra
que demonstrou através de suas atitudes
a resposta ética e comprometida em mudar
as coisas da maneira certa. Fazer o correto
em uma sociedade moralmente invertida
é muito mais do que virtude, é um ato
de coragem, de ousadia e confrontação.
Uma revolução não apenas ideológica, como
preconizava os influenciadores do seu
pensamento, mas moral e ética. Essa foi
a grande contribuição pessoal de sua fase
mais amadurecida no que ele gostava de
chamar de “ajuste dos paradigmas às reais
necessidades do mundo moderno”.
Dono de uma memória prodigiosa lembrava
de detalhes da vida das pessoas, fatos
inusitados e situações atípicas que passariam
despercebidos pela maioria das pessoas.
Uma personalidade forte e marcante que
não deixava espaço para meios-termos ou
meias-palavras, o que chamamos em uma
palavra mais sofisticada de autenticidade.
A rigor do destino, quem tinha uma memória
tão privilegiada deixou um legado “de
“memórias” tão fortes em todos aqueles
que conviveram com ele. Seja como político,
amigo, pai, marido, múltiplas facetas
de um homem, que convergiram para uma
mesma direção: o ideal da grandeza e da
integridade.
Ele amava a vida de uma forma intensa.
Pude perceber isto nos momentos mais dramáticos.
As lembranças das lágrimas dos seus olhos
me fizeram recordar o poema de Vinicius,
“mas que seja infinito enquanto dure”,
em que aplicado à vida tem um traço marcante
da sua personalidade e um exemplo a ser
seguido: o mais importante não são condições
que temos em mãos na breve jornada, mas
o que fazemos com o que temos nelas. O
que não deixa de ser uma paráfrase da
sua música preferida, “Para não dizer
que não falei das flores”, de Geraldo
Vandré. E nisto, para mim, ele foi um
mestre. Soube dar a sua resposta e jamais
será esquecido. Ademildo ad aeternum.
Autor:
Waldeck Alves
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