Para abordar esse tema, nada mais pertinente
e salutar do que um breve esboço sobre
a educação e suas oportunidades no que
tange ao município de Ipirá, terra de
catingueiro, marcada pela estiagem e castigada
pela carência. A escola primária desfraldou-se
dos seus assentos e das suas letras no
final do século XIX e a escola Góes Calmon,
na década de 1920, foi o grande marco
dessa situação.
A juventude da década de 1940, no município
de Ipirá, estava reduzida às primeiras
letras e não por porventura à triste sina
de retirantes nordestinos para SP, RJ,
MG. Raros e contados de dedos foram os
casos que se distanciaram dessa situação
e conseguiram ingressar num ginásio. Todos
os elementos com um cabedal de conhecimento
e com status na sociedade de catingueiros
eram extramuros e oriundos de outras localidades,
que aqui chegaram e foram assentando a
mala de couro e usufruindo de privilégios.
Na década de 1950, a juventude de Ipirá
teve como destino o Rio de Janeiro e São
Paulo para o trabalho na construção civil
e no setor de serviços, nunca a educação
foi tida como um canal de fluxo promissor
de uma vida diferente. Para a questão
do estudo alguns poucos; eram filhos de
coronéis, de profissionais liberais ou
de raros fazendeiros, que enveredaram
pelo trajeto do estudo. Feira e Salvador
acolheu-os satisfatoriamente.
Na década de 1960, foi implantado o ginásio
em Ipirá. Neste período, Brasília passou
a ser vista como uma chance nova para
o jovem ipiraense. O estudo começou a
ganhar um certo espaço, evidente que o
ginásio na cidade ampliou e abriu horizontes,
quem o fazia procurava novas chances em
Feira de Santana, o Curso Normal era um
chamativo para a juventude de Ipirá, tanto
feminina como masculina.
Na década de 1970, veio a Escola Polivalente
e o gérmen da residência em Salvador já
povoava cabeças e alimentava os sonhos
de muitos jovens. Em Ipirá não tinha o
colegial, que era o condicionante para
o vestibular e a universidade. A semente
que era a Casa dos Estudantes brotou,
abrindo um novo e potencial horizonte.
Até então, só fazia universidade filho
de rico e a Casa do Estudante veio para
quebrar esse paradigma e quebrou de forma
concreta e precisa. O jovem de família
carente e filho das camadas populares
podia sair de Ipirá para Salvador com
a finalidade bem definida do estudo.
O objetivo era o colegial e depois a universidade.
A Casa do Estudante era o ponto de apoio
e a mola propulsora nesse sentido. A juventude
de Ipirá, que não tinha rumo certo passou
a ter um porto seguro e a canalizar para
a educação o principal meio de construção
de sua vida. O jovem ipiraense tinha a
garantia de uma certeza e a convicção
de que a correnteza se dirigia no rumo
da educação superior.
A Casa do Estudante nunca foi mordomia,
constituiu-se no amparo e no banco que
substanciava sonhos, esperanças e vocações.
Era uma viga contra a exclusão e o privilégio
no tangente ao curso superior. Tudo tornou-se
possível. Perdura por décadas e sobrepõe-se
a gerações. Uma lição de dificuldade,
cidadania e direitos humanos.
Os motivos de ontem são as necessidades
do hoje. A Casa do Estudante continua
sendo uma viva referência para o jovem
Ipiraense, oriundo das camadas populares
e filhos de trabalhadores. O marco da
casa do estudante representa a existência
fora da ordem, do enquadramento e da mesmice
estabelecidos por estruturas exclusivistas
dominantes em nossa terra.
Hoje, a Casa do Estudante
corre risco.
Senhor prefeito, que circunstancialmente
encontra-se no poder público municipal
de Ipirá, não corte o sonho do jovem ipiraense;
não suprima as possibilidades dos estudantes
que querem ir adiante no estudo; não elimine
esperanças da juventude carente desta
cidade; não interrompa o caminhar do jovem
catingueiro; não sonegue os direitos da
juventude de nossa terra; não crie um
obstáculo à travessia de uma juventude
que batalha com dificuldade, sacrifício
e determinação. A Casa do Estudante de
Ipirá é essa ponte.
Mais do que nunca, é imprescindível que
se defenda um proceder com retidão: a
Casa do Estudante de Ipirá tem que ser
reformada e é uma prioridade, isso não
pode e não deve ser relegado a um próximo
mandato. Negar e negligenciar essa ação
é aplicar um corte profundo na jugular
de uma juventude que pede passagem. VIVA
A CASA DOS ESTUDANTES DE IPIRÁ, o maior
e melhor patrimônio da juventude ipiraense.
Por Agildo Barreto
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