A
primeira votação foi uma farsa. A segunda
foi para a sua sacramentação. O prefeito
encaminhou o Veto ao Orçamento dos valores
de Um Milhão de Reais para a reforma da
Casa do Estudante e Um Milhão de Reais
para a reforma do Mercado de Arte.
Não deu outra, aconteceu. Aqui, é impossível
acontecer o trem descarrilar, porque a
devoção pelo poder que controla e manda
também gera a subserviência e a obediência.
Na engrenagem do poder, as oligarquias
mandam e os vereadores obedecem. Não temos
que nos queixar. Todos os votos foram
nos conformes dos limites impostos e isso
é uma regra muito natural.
Mas teve um voto, um único voto apenas
(apesar de secreto), que teve um grau
de força a nos provocar uma grande decepção.
Todos os outros foram naturalmente normais
e dentro do esperado, não havendo motivo
para falar sobre. Mas, o voto do vereador
André da Saúde, por ter sido, entre os
vereadores, o único a ter morado na Casa
dos Estudantes de Ipirá em Salvador, foi
ex-residente e por isso se esperava que
ele mantivesse a firmeza e a coerência
da votação anterior, a da aprovação da
Lei Orçamentária.
O vereador André da Saúde não me deve
nenhuma satisfação. Os vereadores de Ipirá
devem satisfação aos cidadãos ipiraenses
no seu conjunto. O vereador deve dar uma
satisfação do seu voto à juventude de
Ipirá, porque o voto do vereador nas questões
que tocam na vida do povão, interfere
diretamente na vida das pessoas, prejudicando-as
ou melhorando-as, por isso, o vereador
tem que ouvir a voz do povo.
O vereador tem uma responsabilidade social
e política perante a comunidade. Seu voto
não é uma precária propriedade individual,
que ele faz o que lhe dá na telha, não
é desse jeito, tem que haver ressonância
com os interesses e reivindicações do
povo de Ipirá. Seu voto no poder legislativo
atinge a vida das pessoas para melhorar
ou piorar. O voto do vereador não é uma
brincadeira indolor. Seu voto traz conseqüências
para a vida das pessoas.
Eu quero deixar bem claro o seguinte:
André da Saúde está entre as pessoas do
bem em Ipirá. É um cidadão honrado e digno,
isso ninguém pode negar-lhe. O fato que
estou comentando e questionando refere-se
ao político e vereador André da Saúde.
Ele é um vereador que sabe a importância,
a necessidade e o valor da residência
para o jovem carente de Ipirá. Ele é conhecedor
de fato, pois vivenciou esta experiência
em um momento especial de sua vida. A
Casa do Estudante o recebeu de braços
abertos. Eu, como muitos outros, passamos
por essa experiência, que considero uma
boa lição de vida. Nesse sentido, o voto
foi uma surpresa, não era uma incógnita.
O voto expressou a afirmação da negação
de um período dignificante, ao tempo,
enobrecido pela luta, uma verdadeira lição
de vida. Isso não é coisa para relegarmos
a qualquer circunstância, tem que haver
uma coerência com as bandeiras e os princípios
que aprendemos a defender. O voto favorável
à residência está carregado desta tinta
em qualquer situação. Por isso a decepção
com o voto do vereador André da Saúde.
Pode-se utilizar alguns argumentos na
defesa do voto dado, como o da existência
de uma PLANILHA para a obra da Casa. Dentro
do ORÇAMENTO a reforma da Casa ficaria
calçada, amparada e institucionalizada.
Fora do Orçamento é total insegurança.
Se o vereador André da Saúde acreditou
nessa argumentação, ele encontra-se na
mesma situação dos estudantes, na mais
completa insegurança e vulnerabilidade;
e com uma responsabilidade bem maior do
que antes, porque agora ele tem o dever
moral de cobrar do prefeito a reforma
da casa consubstanciada dentro de uma
PLANILHA.
Pode-se argumentar que o valor de um milhão
de reais para a reforma da Casa estava
extrapolado. De acordo com o gestor, existe
“uma planilha que gira em torno de R$
200 mil reais” para a obra da casa. O
vereador André da Saúde acha que um milhão
de reais é muito para a reforma? O vereador
acha que oitocentos mil reais para publicidade
é muito? O vereador acha que R$ 200 mil
reais é suficiente para a reforma?
Os estudantes querem uma reforma decente
que dê uma condição digna de vida a todos
os residentes. Se isso acontecer, ótimo!
Se o vereador André da Saúde concorda
com o argumento do gestor, o vereador,
também, assume um compromisso e tem uma
responsabilidade evidente, porque tem
o dever moral de cobrar uma reforma decente
nos valores de R$ 200 mil reais, que foi
o que ele, como vereador com direito a
voto, acreditou e avalizou.
O vereador pode muito bem não concordar,
mas, eu pressinto que o vereador André
da Saúde está jogando xadrez numa mesa
de poker. O prefeito diz que vai fazer
a reforma oportunamente. Isso é sinal
de blefe. Não falou em data para começar.
Outro sinal de blefe. E o vereador André
da Saúde jogando xadrez, com pena de derrubar
o rei, mas com tempo suficiente para refletir
sobre a sua responsabilidade com a reforma
da Casa.
O vereador André da Saúde é um vereador
de grupo. Acredito que ele vote com critério
até nas propostas do grupo. Deu mais crédito
ao gestor que aos estudantes. Confiou
no que o gestor Marcelo Brandão lhe falou
para poder mudar seu voto e votar do jeito
que o gestor queria que ele votasse. Aqui
eu não tenho dúvida, se o gestor Marcelo
Brandão está com a intenção de blefar
para os estudantes, também ampliou o campo
das vítimas do blefe, com o vereador André
da Saúde.
Não acredito de forma alguma que o vereador
André da Saúde seja um ferrenho opositor
à Casa do Estudante de alma fechada. Não
acredito mesmo! Ele está fechando com
a proposta do gestor, que é uma proposta
de fazer uma reforma com R$ 200 mil reais,
mesmo claudicando na questão do tempo
de início da obra. Aí dá para se sentir
o cheiro do ‘migué’ que o vereador ainda
não quis ou não quer perceber, mas vai
ter que ser o fiscal e maior vigilante
desta situação, para não se tornar uma
pessoa sacrificada aos interesses e paixões
alheias.
Os vereadores em Ipirá estão dentro de
um jogo dominado, controlado e dirigido
pelas oligarquias locais (jacus &
macacos), com amplas possibilidades para
as transgressões humanas, mesmo com todos
os percalços é necessário que se mantenha
acesa a esperança e a noção de que persistindo
no caminho percorrido alcançaremos o benquisto
ao dobrar a próxima esquina.
Por Agildo Barreto |