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Caso
aconteceu em Goiânia (GO). Além de pároco, sacerdote
era professor de Filosofia
da PUC Goiás e foi afastado da igreja |
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09/03/2019
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Goiânia
(GO) – Vizinhos da Paróquia Nossa Senhora
Auxílio dos Cristãos (foto em destaque),
no Setor Sudoeste de Goiânia, comentam
com sussurros o caso que levou um dos
fiéis a tirar a própria vida no último
domingo de fevereiro, dia 24. Pouco antes,
ele descobrira que a esposa estava tendo
um romance com o padre da igreja que o
casal frequentava e denunciou o caso em
seu perfil no Facebook.
Todas as semanas, em um dos 36 bancos
distribuídos em duas fileiras da igreja,
sentava-se o bancário Pedro Nélio Batista,
41 anos, que acabou tirando a própria
vida. Ao lado, ficava a sua esposa, identificada
apenas como Mara, e o filho do casal,
7. Juntos, eles assistiam às missas celebradas
por Antônio Rocha Souza. O pároco é sacerdote
e professor canônico da Pontifícia Universidade
Católica de Goiás (PUC-GO).
Segundo o irmão de
Pedro, Júnior Batista, 40, o bancário
descobriu o caso pouco mais de um mês
antes de morrer. “Ele foi ficando alegre
e triste. No domingo, fizemos um churrasco
na casa dele. Estava apreensivo porque
a igreja apenas suspendeu o padre e não
o expulsou”, contou.
Júnior, que viu o relato de Pedro logo
após a postagem na rede social (veja acima),
correu para a casa do irmão, mas já era
tarde. “Tentei fazer massagem [de reanimação].
Vi meu irmão morrendo, por isso cobro
que o responsável pela morte seja expulso
da igreja”, desabafa Júnior. |
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Acusação
pública
Ao publicar no Facebook, horas antes da
tragédia, que a mulher tinha um caso amoroso
com o clérigo, Pedro, conhecido como Pedrão,
despertou a atenção e a curiosidade dos
paroquianos. A história se espalhou e
foi agregando fofocas e invencionices.
Uma delas de que o filho de 7 anos não
seria de Pedro. Júnior, no entanto, desmente.
“Um exame de DNA concluiu que meu irmão
é o pai”, assegurou.
A mulher, que era secretária do padre
no turno da manhã desde que o religioso
foi designado pela Arquidiocese de Goiânia
para o paróquia há quatro anos, não foi
encontrada pela reportagem.
O padre é considerado
“exemplar”, “atencioso” e “inteligente”
pelos fiéis, mas no texto de Pedro, ganha
outros adjetivos: “canalha”, “traidor”
e “maquiavélico”.
No relato, Pedro revelou que ele e Mara
procuraram o sacerdote para tentar salvar
o casamento, que estava em crise. “[…]
a pessoa que devia salvar uma crise no
meu casamento, usou da sua inteligência
maquiavélica para iludir e seduzir minha
esposa, num evento religioso, a festa
da padroeira, em maio de 2018 […]”, escreveu.
Ainda segundo o desabafo, o sacerdote
teria ido, com a esposa de Pedro, para
Correntina (BA), em uma espécie de “lua
de mel”. |
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Veja: |
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“Temente
a Deus”
Secretária, Mara ficava em uma sala no
térreo do prédio de dois andares da igreja.
Era vista, pelo menos pelos frequentadores
que falaram com a reportagem, como uma
“boa mãe”, “atenciosa” e “temente a Deus”.
O padre morava no andar de cima, com a
mãe. Do lado de fora da paróquia, ainda
hoje é possível ver uma cortina azul na
janela de onde, quando em vez, o padre
aparecia para espiar o céu e a rua, segundo
relatos de frequentadores.
O prédio é quase um labirinto de salas
e corredores mal iluminados, com santos,
velas apagadas e quadros com imagens de
Jesus Cristo. No altar da igreja, há um
mosaico de barro com várias feições do
messias. Na maioria, Cristo parece olhar
de soslaio, para baixo, entristecido –
como em uma escultura maior no centro
da tela, que parece espiar um crucifixo
abandonado ao lado de uma lata de refrigerante
em cima do segundo banco à esquerda.
Para a reportagem, apenas um fiel da igreja
quis comentar o assunto sem resguardar
a sua identidade. Geraldo Rodrigues, de
64 anos, viu a transmutação da pequena
capela, feita de taipa e folhas de bananeira,
na atual paróquia, frequentada por centenas
de pessoas.
Quando soube que jornalistas
queriam entender a trágica histórica do
bancário, da mulher e do padre, tratou
de apontar e sentenciar um culpado. “Olha,
o diabo faz isso. É coisa da carne”, acusou
ele, dentro da oficina que funciona na
garagem da casa a quatro quadras da igreja.
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Igreja Era em um dos bancos da igreja
que a família de Pedro se sentava para
acompanhar os sermões do padre Antônio
– Yago Sales / Especial para Metrópoles
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Negro,
barba por fazer, calvo, com o pouco
que lhe resta de cabelo mais branco
do que preto, barrigudo e com pouco
mais de 1,60m de altura, o mecânico
teceu elogios ao padre. Para Geraldo
Rodrigues, o religioso não demonstrava
nada que o desabonasse diante da comunidade
católica e não católica. “Era um homem
que prezava a liturgia. Ele dizia que
tinha ideia para escrever um livro”,
contou.
Foi na oficina de Rodrigues que, durante
meses, ficou estacionado um fusca do padre
para reforma. “Ele era muito simples,
não tinha luxo nenhum”, lembra o mecânico,
que prefere atribuir as responsabilidades
à natureza da espécie: “Não vou culpar
nem ele nem ela. Errar é humano”.
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Igreja
sabia
Sob anonimato, dois fiéis disseram que
a igreja – ou seja, os superiores do padre
– já sabia do ocorrido antes do suicídio
do bancário Pedro, mas manteve sigilo.
Apenas no dia 14 de fevereiro, o arcebispo
dom Washington Cruz optou pela “suspensão
preventiva canônica total do uso de ordens
do padre Antônio Rocha de Souza”.
A Arquidiocese não soube responder se
Pedro foi acompanhado por um profissional
de psicologia quando a história veio à
tona. Em nota enviada ao Metrópoles, a
Arquidiocese de Goiânia informou que,
em janeiro de 2019, recebeu do padre “a
solicitação de afastamento de suas atividades
como administrador da Paróquia Auxílio
dos Cristãos, por motivo pessoal.” Um
novo sacerdote foi colocado em seu lugar.
A nota não revelou
se deu o afastamento. Contudo, a Arquidiocese
afirmou que, “enquanto isso, surgiram
algumas denúncias contra o Pe. Antônio
Rocha de Souza, que levou a Arquidiocese
a suspender preventivamente o referido
sacerdote de suas atividades sacerdotais
para melhor investigar estas alegações
(cf. Decreto 05/2019).
”Em um segundo e-mail, a reportagem quis
saber se a família de Pedro, inclusive
o filho, têm recebido algum acompanhamento
por parte da igreja. “As famílias estão
sendo assistidas por um padre, atual responsável
pela Paróquia Auxílio dos Cristãos”, respondeu
a Arquidiocese.
Nomeado desde o 1º de fevereiro pelo arcebispo
dom Washington Cruz para ser o novo pároco
da congregação, o padre Rodrigo de Castro
Ferreira não foi encontrado pela reportagem.
A Pontifícia Universidade Católica de
Goiás ainda não se pronunciou sobre o
caso.Por telefone, a assessoria de comunicação
da Polícia Civil de Goiás afirmou que
a ocorrência da morte de Pedro Nélio Batista
foi registrada na 20ª Delegacia de Polícia
(DP) de Goiânia, como suicídio.
Yago
Sales/especial para o Metrópoles
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