Começo
este editorial deixando claro que não
sou contra o bingo realizado neste domingo
(17/11), nem qualquer outro bingo.
Como ipiraense, sou contra a maneira como
foi cedido a liberação da Praça Roberto
Cintra para a realização do citado evento.
Estive pela manhã do domingo na citada
praça e também a tarde durante a realização
do evento.
Na condição de cidadão e filho desta terra,
o que presenciei me deixou triste, ao
ver a atrocidade cometida. Logo pela manhã
a partir das 11 horas, presenciamos um
enorme carro som, na citada praça, divulgando
o bingo, em um volume estarrecedor, no
momento estava acontecendo a famosa e
já tradicional Roda de Conversas que acontece
todos os domingos na citada praça.
O som, extremamente potente, caracterizava
um desrespeito tremendo ao direito ao
silencio que todo cidadão deve ter, perante
a lei. Impossibilitado de continuar, a
Roda de Conversa teve que ser desfeita,
pois era impossível ouvirmos as colocações
de cada um dos participantes.
Impossibilitado de continuar na roda de
conversa, desfeita, assim que começou
o som com a sua explosiva carga de decibéis,
achei melhor observar o que estava acontecendo.
Além do som estarrecedor, que fere a lei,
em uma praça eminentemente residencial,
comecei a dar conta que os barraqueiros
começavam a chegar, e simplesmente cada
um deles, sem cerimonias, observava qual
o local que poderiam melhor venderem os
seus produtos e armavam as suas barracas,
não importava se em cima dos passeios
ou em cima das áreas reservadas as plantas.
Frisando que durante todo este processo
não existia um único fiscal da prefeitura
para orienta-los.
Com a chegada do meio dia, fui almoçar,
retornando as 15 horas, ao chegar no suposto
'jardim' tomei um choque, a praça que
é a principal rua da cidade, onde encontra-se
um imenso e abandonado jardim, mas mesmo
assim não deixa de ser uma área jardinada,
estava tomada por uma multidão, pisoteando
o que resta de plantas, em um comportamento
como se estivessem em uma área totalmente
abandonada, como se ali não existisse
uma área jardinada a ser preservada.
A praça Roberto Cintra é a primeira rua
desta cidade, sendo um patrimônio histórico
de todos os ipiraenses, é o principal
ponto turístico e de lazer desta cidade.
Como filho desta terra, após o que presenciei,
senti vontade de dar as costas e voltar
para casa, seguir o procedimento da maioria,
ficar calado e fazer de conta que nada
estava acontecendo. Mas isso seria o certo?
Será que não estamos tapando os olhos
as atrocidades acontecidas na nossa cidade,
achando que os problemas vão se resolver
por si mesmo, e que cada um vá cuidar
de sua própria vida?
Uma barbaridade desta não pode passar
despercebida. Se tivéssemos um prefeito
de pouco nível escolar diríamos que era
falta de educação e princípios, que a
culpa era do povo que o elegeu.
Mas não é isso que tem acontecido, no
momento temos um prefeito, com nível superior,
com salário de mais de vinte mil reais
por mês, tendo carro com motorista, além
de uma série de privilégios, tudo pago
pelo povo, para nos representar e dirigir
com responsabilidade este sofrido município.
Salientando que durante 12 anos este mesmo,
hoje gestor, criticou sem dor e sem pena
todos os prefeitos oposicionistas que
passaram pelo governo deste município.
Este bingo jamais poderia ter licença
para acontecer neste espaço, poderia muito
bem ser realizado no Parque de Exposições
desta cidade, um imenso parque que a prefeitura
disse ter aplicado verbas para revitaliza-lo
e até hoje, neste governo, só lembro de
um evento nesta localidade. Poderia até
acontecer na chamada ‘orla’, uma área
já conhecida por possuir diversos bares
e ser isenta de áreas jardinadas, ou até
mesmo no Centro de Abastecimentos, que
aliás, embora construído com verba do
povo de Ipirá, já não nos pertence mais.
O que vejo e uma gestão, que em relação
a esta praça, tão cara e querida aos ipiraenses
é uma verdadeira omissão, parece que o
que se pretende é realmente destruir esta
praça. Em três anos de governo, em relação
a esta praça a principal intervenção desta
gestão foi demolir os sanitários, construídos
por uma gestão oposicionista. Quando houve
a demolição muitos ipiraense nada disseram
até porque acharam que outros sanitários
melhores seriam construídos, na praça.
Mera ilusão, até hoje, passados três anos
não se reconstruiu os sanitários demolidos.
Voltando a salientar, que a praça não
possui estrutura para eventos deste porte,
a começar pela falta de sanitários, onde
não foi colocado sanitários para dar suporte
ao evento, e presenciávamos diversos adultos
e crianças fazendo as suas necessidade
fisiológicas pelas esquinas, atrás de
plantas e nos bares vizinhos a localidade,
pois uma multidão daquelas, com um calor
terrível, onde é natural tomarem cervejas,
e muita água, quando a necessidade aperta,
a vergonha tem que ser deixada de lado
e qualquer coisa tem que ser feita.
Estamos vivendo um tempo de 'marretadas'.
Esta praça é história, uma referência
para Ipirá e o seu povo. Não é por que
está abandonada que vamos acabar de destruir
o que resta dela, acima de tudo ainda
é um jardim, e somos um povo civilizado.
Diante do que vem acontecendo, nós ipiraenses
temos que decidir se a praça Roberto Cintra
é uma praça jardim ou um imenso campo
desolado, se a temos como jardim, estamos
tratando esta praça com graves contravenções,
como seres bárbaros e aculturados, pois
é muito fácil ver que é considerado crime
ambiental a invasão de áreas jardinadas,
e o governante que não enxergar desta
maneira poderá ser processado por crime
de omissão e falta de proteção à natureza
e ao patrimônio público.
Termino esta matéria, expondo a minha
visão clara de ipiraense ferido, na certeza
que outros também veem desta maneira,
na esperança que outros também enxerguem
o que vem acontecendo, na súplica que
nós que somos donos desta terra abramos
os olhos para tanto abandono e insensibilidade
com o que é nosso e as vezes custou caro
aos nossos antepassados.
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