Recentemente,
em andanças pelo centro da cidade, ouvi
um senhor comentar que a praça Roberto
Cintra, está abandonada e desprezada (como
já foi divulgada diversas vezes por este
site), e que segundo o cidadão, a praça
estava um 'COIÓ DE ANÁLIA'.
Ao ouvir o termo 'Coió de Anália' usado
pelo cidadão, além de achar a comparação
interessante e original, despertou-me
a curiosidade de saber, o significado
e o porquê de o cidadão ipiraense usar
esta frase: "A PRAÇA ROBERTO CINTRA
ESTÁ UM COIÓ DE ANÁLIA".
No dicionário informal Nordestino, o termo
'coió' tem diversos significados, dente
eles os mais significativos, para serem
usados na comparação, são 'quarto dos
fundos', 'ridículo', 'acabado' e 'abandonado.
'Coió
de Anália', e a 'A Massa', dão projeção
nacional e internacional ao ipiraense,
Sodré.
Em Ipirá (BA), o termo 'Coió de Anália'
é bastante significativo, principalmente
depois que o famoso cantor ipiraense Raimundo
Sodré, usou o termo para compor a música
(em parceria com Jorge Portugal) 'Coió
de Anália', que acabou virando sucesso,
juntamente com a música 'A Massa', dando
projeção nacional e internacional ao ipiraense.
Além das músicas já citadas, outras canções
de Sodré, também se tornaram bastante
conhecidas em sua voz, como “Não deixe
de sorrir” ( cantada também em inglês),
“Pelo sim, pelo não”; “Baião Pisado” e
muitas outras, que juntas somam mais de
50 músicas bastante conhecidas, algumas
delas difundidas no exterior.
Investigando sobre o porquê do 'Coió de
Anália' usado na música do ipiraense,
foi descoberto que o termo usado na letra
da música foi uma homenagem do cantor
a uma antiga Casa de Prostituição existente
em Ipirá, quando na hoje Praça Santana,
que nas décadas de 60 a 80, era conhecida
como 'Rua do Brega', existia a casa de
prostituição, 'Coió de Anália', tida como
a melhor e mais aconchegante do lugar,
cuja proprietária era Anália, onde Sodré,
quando 'moleque', constantemente frequentava,
juntamente com os amigos.
'O Coió de Anália' era uma 'casa' bastante
lembrada e preferida pelos frequentadores,
da 'Zona', pois era a que mais oferecia
'serviços de primeira', a que frequentemente
recebia 'raparigas jovens', do local e
das circunvizinhanças, onde as vezes surgia
até mesmo algumas 'virgens' para apimentar
a noite da casa noturna.
Tempos que deixaram saudades e muitos
corações partidos
Dentre as mulheres da 'Rua do Brega' que
se destacaram naquela época, podemos citar
nomes como: Maria Relógio, Maria Corcundinha,
Galega, Índia, Benícia, Marinalva, Zé
Grandona, Mãe Maria, Telma, Maria Mungunzá,
Radiola, Mariquinha, Tatuzinha, Leonoa
Gaga, e tantas outras.
Entre os anos 60 e 80, além de Anália,
outros donos de prostibulo também se destacaram.
Dentre eles podemos citar, Nascimento,
Caetano, Agripino, Godô, João Soldado,
Carlos Soldado, Marinalva, Neném, João
Boy, e dona Albina.
Em Ipirá, além do 'Coió de Anália', que
foi o precursor, existiu o Canecão, que
era o 'point' também preferido por senhores
da alta sociedade da época.
As
noites, nos prostíbulos ipiraenses eram
animadas com muito forró, mas os campeões
do 'Brega Romântico' também não eram descartados,
dentre eles merecem destaques: Reginaldo
Rossi, Odair José , Amado Batista, Fernando
Mendes, Waldick Soriano, Agnaldo Timóteo,
Evaldo Braga, Lindomar Castilho, Barto
Galeno, Júlio Cesar, Diana, Alipio Martins,
Frankito Lopes, Trio Parada Dura, Cremilda,
Vicente Celestino, etc.
jovens, com 'serviços sexuais' oferecidos
a preços módicos
No 'Coió de Anália', além das jovens,
com 'serviços sexuais' oferecidos a preços
módicos, ficarem na mente dos frequentadores,
também era inesquecível o principal prato
servido na casa, que era 'Carne de Bode
assada ao Pirão de Aipim'. O prato, também
conhecido como o 'Bode da Anália', além
do aipim e da carne de Bode, continha
alguns outros ingredientes não revelados,
que era o 'segredo da casa'.
'O Bode da Anália', poderia ser consumida
tanto no início da noite, para dar 'aquela
energia' ou após as 'pesadas traquinagens'
dos fregueses, para repor as energias
gastas. Que segundo os historiadores,
o prato 'de bode com ingredientes secretos'
fazia os jovens tornarem-se 'touros' indomáveis
e os idosos a vararem a noite, pedindo
'bis', nas traquinagens, onde levavam
as garotas jovens a exaustão e a pedirem
arrego.
Lembrando que nas décadas de 60 a 80,
era comum a frequência de rapazotes nestas
localidades, onde até mesmo o pai dos
jovens as vezes os levava para lá perderem
a 'virgindade', e assim adentrarem a vida
adulta com já alguma 'Educação Sexual
na prática'.
Jovens
são levados ao 'Brega' para perderem a
virgindade e tornarem-se 'homens machos'
O costume de levarem os jovens para as
primeiras lições de 'Pratica Sexual' fazia
parte do cotidiano de amadurecimento da
vida sexual da rapaziada, principalmente
quando os pais suspeitavam que algum 'desvio'
de conduta estava acontecendo na vida
do jovem filho, que aparentava estar com
trejeitos estranhos, desmunhecando, parecendo
estar 'dentro do baú', e estar em duvida
da opção sexual a adotar. Enfim, o jovem
ao frequentar o 'coió', pela primeira
vez, recebia o passaporte para o mundo
adulto, o mundo dos 'homens machos'
Ainda, lembrando um fato interessante,
foi que o cantor Raimundo Sodré, após
a fama, principalmente com as músicas
'Coió de Anália' e 'A Massa', não esquecendo
as suas origens e também com bastante
saudade do 'Coió de Anália', o artista,
no auge do sucesso, estando em São Paulo,
em meio a muitos compromissos profissionais,
retornou a Ipirá, para comer o 'Bode da
Anália', e também 'matar' a saudade de
uma 'Casa' que lhes trouxe (e a muitos
outros ipiraenses) muitas alegrias e recordações.
Segundo informações, Sodré retornou a
capital paulista, levando na bagagem uma
farta porção do 'Bode da Anália' (com
seus ingredientes secretos), que lhe proporcionou
a 'energia extra', que o momento de tanto
sucesso exigia.
No forró
'Fogo no Camisão', despontou importantes
artistas locais
O amigo Jorge Luiz (do site Caboronga
Noticias), passou-me a informação, que
no 'Coió de Anália', nas noites de terças-feiras,
a partir das 22h, rolava o forró 'Fogo
no Camisão', que se estendia até as 16
horas, de quarta-feira. Ainda segundo
a informação, o tradicional forró, foi
palco para a descoberta de grandes talentos
da localidade, descobrindo-se em Ipirá
grandes sanfoneiros, dentre eles Tranquilo
dos 8 baixos, Quincas, Carlito Bananeira,
Zé Henrique, Isaac Reis e muitos outros
grandes artistas. Ainda segundo a informação,
após a projeção local, a maioria dos sanfoneiros
deslocavam-se para praças mais famosas,
onde muitos deles dirigiam-se para São
Paulo, em busca de fortuna, fama e gloria.
Em outras oportunidades voltaremos a falar
porque faz sentido associar o termo 'Coió',
para comparar o abandono da praça Roberto
Cintra, usando como comparação os termos
de 'quarto dos fundos', 'ridículo', 'acabado'
e 'abandonado'.
Praça Roberto
Cintra, abandonada e desprezada
A praça Roberto Cintra, embora totalmente
abandonada e desprezada, pela Gestão atual
(como já mostramos por diversas vezes),
é a primeira rua, marco inicial do nascimento
da cidade, considerada pela população
como patrimônio histórico e principal
rua de Ipirá, onde, certamente, não cuidar
e agredi-la é agredir o povo de Ipirá.
Mas, tomando como base a nossa história,
o termo 'Coió de Anália', vale a pena
ser lembrado como algo a ser relatado,
relembrado ao povo de Ipirá e acrescido
as suas memórias. |