Bahia não sabe causa de seis em cada dez mortes
por
síndrome respiratória
A
quantidade de mortes pelo mesmo motivo avançou
quase 700%, saindo de 31 no ano passado para 241
este ano.
16/05/2020
O
número de mortes e hospitalizações por
Covid-19 na Bahia pode ser maior do que
o constatado pelo poder público. Isso
porque a maioria das pessoas que morreram
com SRAG (Síndrome Respiratória Aguda
Grave) no estado não tiveram o agente
causador dos sintomas identificado.
O
boletim epidemiológico da Secretaria de
Saúde da Bahia aponta foram registradas
no estado 241 mortes por problemas respiratórios
entre os dias 1º de janeiro e 28 de abril.
Deste total de mortes, contudo, apenas
77 tiveram a causa identificada: 61 foram
causadas pela Covid-19, 13 por vírus do
tipo influenza (gripo comum), nove por
outros vírus respiratórios e três por
outros agentes causadores de problemas
respiratórios.
Outras 139 mortes por SRAG não tiveram
a causa identificada. Ou seja, nenhuma
doença foi apontada após a realização
de testes com amostras dos pacientes que
morreram. Até 28 de abril, ainda haviam
28 mortes sob investigação.
A proporção é que, de cada dez mortes
registradas este ano na Bahia por problemas
respiratórios, seis não tiveram a causa
identificada. Um cenário que não é novidade:
no ano passado, a proporção de testes
que deram negativo -ou seja, não identificaram
nenhuma doença- foi semelhante.
O que mudou foi a proporção de casos de
SRAG. O número de internações por problemas
respiratórios graves na Bahia é cinco
vezes maior do que o registrado no mesmo
período ano passado.
Entre 1 de janeiro e 28 de abril de 2019,
foram notificados 401 casos de pacientes
com problemas respiratórios graves, número
que saltou para 1.957 no mesmo período
deste ano.
São notificados com síndrome respiratória
aguda grave os pacientes que chegam a
hospitais ou unidades de pronto atendimento
com um conjunto de sintomas respiratórios
que pode incluir falta de ar e febre.
As internações e óbitos por esse motivo
têm notificação obrigatória, que devem
ser encaminhadas para o Ministério da
Saúde.
A diretora de Vigilância Epidemiológica
da Secretaria da Saúde da Bahia, Márcia
São Pedro, explica que vários fatores
podem levar a um resultado negativo em
um indivíduo infectado.
Entre eles está a má qualidade de amostra,
o manuseio ou envio inadequado da amostra,
o fato da amostra ter sido coletada em
uma fase precoce da infecção ou razões
técnicas inerentes ao teste, como a mutação
do vírus.
De acordo com protocolo do Ministério
da Saúde, em áreas onde a Covid-19 está
amplamente disseminada, o resultado negativo
de um caso suspeito não descarta a possibilidade
de infecção pelo vírus SARS-CoV-2.
Por isso, a orientação é que os testes
não sejam usados como única base para
tratamento ou outras decisões de gerenciamento
de pacientes. Os resultados negativos
devem ser combinados com observações clínicas,
histórico do paciente e informações epidemiológicas.
As amostras de testes que deram negativo
não são testadas novamente, pois não há
essa orientação nos protocolos do Ministério
da Saúde para óbitos.
Em parte dos casos, contudo, a Covid-19
pode ser registrada como causa da morte
ou hospitalização mesmo sem a confirmação
por meio de testes. “A doença é constatada
por meio de critérios clínicos”, explica
Márcia São Paulo.
A diretora de Vigilância Epidemiológica
ainda afirma que crescimento do registro
de casos de SRAG neste ano também pode
ser explicado por aumento da sensibilidade
de notificação das equipes de saúde.
“Como é um ano epidêmico para influenza
e tivemos a ocorrência da pandemia de
Covid-19, está todo mundo mais atento”,
explica.
O cenário de forte avanço de casos de
síndrome respiratória aguda grave não
é exclusivo da Bahia. Conforme revelado
pelo jornal Folha de S.Paulo no dia 30
de abril, houve um forte crescimento dos
casos de SRAG no Brasil este ano em comparação
com o mesmo período do ano passado.
Dados do Ministério da Saúde apontam que
72 mil pessoas foram hospitalizadas por
problemas respiratórios graves desde o
início do ano até o dia 28 de abril. No
mesmo período de 2019, esse número foi
de 13,5 mil –um aumento de 430%.
Para identificar casos do novo coronavírus,
o estado da Bahia tem adotado o teste
do tipo RT-PCR, considerado mais confiável
do que os testes rápidos.
O Ministério da Saúde recomenda que o
teste seja coletado entre o 3º e 7º dias
de início dos sintomas, preferencialmente,
quando a carga viral é maior, podendo
ser coletado até o 10º dia.
A secretaria de saúde da Bahia informou
que a maioria das amostras das mortes
por síndrome a respiratória aguda agrave
não especificadas “foram coletadas até
o sétimo dia do início dos sintomas, ou
seja, dentro do prazo oportuno”.
Ainda de acordo com a secretaria, o percentual
de casos com SRAG com causa não identificada
segue o mesmo padrão de anos anteriores.
Em 2019, 60,6% das amostras coletadas
dos pacientes que morreram por problemas
respiratórios deram negativo, ou seja,
não tiveram causa identificada.
Por outro lado, nem todos que morreram
com problemas respiratórios graves foram
testados para Covid-19. Das 92 mortes
por SRAG não especificada registradas
até o dia 23 de abril, 15% não foram testadas
para a doença causada pelo novo coronavírus.
No último boletim epidemiológico, divulgado
na quinta (14) pela Secretaria de Saúde
do estado, a Bahia havia registrado 6.955
casos da Covid-19 e 262 mortes pela doença.