O apresentador Raimundo Varela é candidato
a prefeito de Salvador em 2008. Não há
quem segure o homem ou o faça desistir. Não
se trata de nenhuma obsessão. É um desejo
pessoal e coletivo, na sua visão. Depois de
anos e anos em contato direto com o público,
Varela concluiu que não é dono de si.
Decidiu acompanhar o que ele mesmo considera uma conclamação
da população. Se está na chuva,
não vê motivo para não se molhar.
Vai entrar de corpo e alma na campanha.
Como diria a meninada de hoje, o propósito
de Varela é bater de frente com o eleitorado.
Ter um “papo-cabeça” com homens,
mulheres, velhos e moços. E implantar o próprio
estilo de governar. Deu, não deu, e fim de
papo. Sozinho, ele sabe que o caminho é mais
espinhoso. “ Tenho o principal: o apoio popular”,
diz, sem, no entanto, prescindir do apoio político.
A jornada é longa, mas Varela parece ter pressa.
Haja mesa para ser esmurrada. Não perguntei
e ele nunca me disse, mas a sua esposa Sheila deve
contabilizar um bom prejuízo em casa. Talvez
por isso a cobertura das mesas da varanda e da sala
seja de vidro. Assim fica mais difícil detoná-las.
Mas Varela é assim mesmo. Impulsivo, tem uma
metralhadora na boca. Mas tem a preocupação
de não cometer atos falhos. Se é injusto,
por este ou aquele motivo, humildemente pede desculpas.
Comete excessos às vezes, mas isso deve ser
atribuído ao seu estilo um tanto quanto explosivo.
Sua origem de garoto do subúrbio ferroviário
o fez conhecer, de perto, as mazelas da realidade
que passamos ontem e hoje. E que ele também
passou.
Pergunto a mim mesmo: por que diabos uma consagrada
figura da área de comunicação
da Bahia quer se meter em política se, aparentemente,
esta não seria a sua praia? Varela acredita
que uma das suas missões, antes, durante e
depois de toda a sua luta recente para sobreviver,
é a de colocar na prática tudo aquilo
que ele expressa na televisão e no rádio.
Ele quer deixar de ser estilingue para ser vidraça.
Quer dar uma prova de que pode trocar o discurso por
ações concretas. Vai ter de se estribuchar.
As cobranças serão diuturnas. E virão,
óbvio, das classes menos favorecidas, onde
conta com grande admiração. Mas ele
está disposto a meter as caras e peitar os
desafios. É o seu jeitão. Lembro comigo
mesmo a administração de Fernando José.
Como comunicador, excelente. Como administrador...
Varela dá de ombros toda vez que surge a comparação.
Paulo Souto, duas vezes governador da Bahia, senador,
com passagens consagradas por inúmeros órgãos
públicos estaduais e federais também
era (e é) homem de rádio. Então,
o fundo nada tem a ver com a calça. É
legítimo o pleito de Varela. E a Record vai
abrir mão do seu âncora número
um, de maior audiência? Certamente que não.
Mas, determinado como está, Varela, com todo
reconhecimento que tem pela casa e sua direção,
deve mesmo abrir mão da Record. A causa é
justa.
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