Se
for excluída a hipótese de que as mulheres mentem
a respeito de seus sentimentos (por que fariam
isso em laboratório, protegidas pelo anonimato?),
estamos de volta à perplexidade registrada por
Freud no texto de 1900, com um sério agravante:
não é apenas que um homem não entende as mulheres,
mas elas mesmas que não sabem o que sentem. Ou
não seria nada disso? “As mulheres mentem, de
forma consciente e inconsciente”, diz a escritora
e roteirista Fernanda Young, de 38 anos. “Elas
mentem para sobreviver porque, historicamente,
não têm liberdade para dizer o que pensam. Acho
que a maioria das mulheres se constrange diante
de alguns objetos de excitação e diz que não se
excita. É uma questão de sobrevivência cultural”.
A revista dominical do jornal The New York Times
publicou dias atrás uma longa reportagem em que
a sexóloga Meredith, de 36 anos, discutia a sua
pesquisa, publicada em 2007. O texto apresentava
várias teorias e pesquisas empíricas que tentam
explicar o universo sexual feminino. Curiosamente,
quando combinados, os dados obtidos em laboratório
parecem confirmar aquilo que Fernanda Young afirma
sem amparo estatístico: por razões ainda misteriosas
(históricas e culturais, provavelmente; físicas,
quem sabe) as mulheres escondem (até de si mesmas)
as suas preferências sexuais e operam com um nível
elevado (e contraditório) de fantasias, nem todas
politicamente corretas. “A sexualidade é um quarto
escuro”, diz a escritora.
Desde os relatórios pioneiros de Alfred Kinsey,
escritos nos anos 1940 e 1950 do século XX, o
meio médico acreditava que mulheres e homens eram
sexualmente assemelhados. Foi apenas em 2005 que
a pesquisadora canadense Rosemary Basson sugeriu
que o desejo das mulheres não segue a cronologia
masculina, na qual desejo, excitação e orgasmo
se sucedem, nesta ordem. De lá para cá, a ênfase
dos estudos sobre sexualidade tem estado nas diferenças
entre homens e mulheres. Um dos resultados práticos
dessa tendência é a percepção crescente de que
o sexo nas mulheres é muito mais subjetivo do
que se imaginava. Nelas, os mecanismos de excitação
psicológicos parecem estar em ampla medida descolados
do que ocorre no corpo. Ao contrário dos homens,
para quem ereção é sinônimo de disposição, a lubrificação
feminina não significa prontidão para o sexo.
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