(FolhaPress)
- Os bloqueios de rodovias em protesto contra
o resultado das eleições presidenciais dividem
lideranças dos caminhoneiros e são vistos mais
como um movimento da militância bolsonarista
do que da categoria que parou o Brasil por duas
semanas em 2018 em protesto contra a alta dos
combustíveis.
Líderes daquela greve disseram à reportagem
não participar da coordenação das manifestações
atuais e nem ao mesmo terem ideia de onde partem
as convocações para os bloqueios, que têm uma
pauta mais política do que trabalhista.
Nos protestos, os bolsonaristas questionam o
resultado das eleições e pedem até intervenção
militar para evitar a posse do presidente eleito
Luiz Inácio Lula da Silva (PT). E cobram do
presidente Jair Bolsonaro (PL) posição mais
firme em contestação ao pleito.
O questionamento ao resultado das eleições foi
inflamado por mensagens dizendo que a fiscalização
das Forças Armadas e auditorias externas detectaram
irregularidades na apuração dos votos e que
uma denúncia de fraude seria feita ao STM (Superior
Tribunal Militar).
Ganhou força ao longo do dia com o silêncio
de Bolsonaro, que até o início da noite desta
segunda não havia se manifestado a respeito
do resultado da eleição, e com manifestações
de apoio de influenciadores bolsonaristas, como
a deputada federal Carla Zambelli (PL).
Em um grupo de mensagem entre caminhoneiros
gaúchos, os participantes classificam o movimento
como "resistência civil" e criticaram
declarações sobre respeito às urnas, como a
do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP) -que,
neste domingo, pediu respeito ao resultado das
urnas.
Durante o dia, os bloqueios se multiplicaram,
chegando a ocorrer em vias urbanas de São Paulo
e Rio de Janeiro, por exemplo. Em alguns casos,
não havia sequer caminhões nos protestos, que
eram feitos apenas por partidários do presidente
da República.
Uma das lideranças que emergiu em 2018, o caminhoneiro
Wallace Landim, conhecido como Chorão, divulgou
logo pela manhã vídeo questionando as manifestações
e afirmando que "não é hora de parar o
Brasil.
"Nesse momento, parar o país vai prejudicar
muito a democracia desse país. Precisamos ter
reconhecimento da democracia, da vitória do
presidente [Lula]", afirmou ele, argumentando
que a categoria precisará de alinhamento com
o novo governo para aprovar pautas de seu interesse.
Caminhoneiro autônomo e diretor da CNTTL (Confederação
Nacional dos Trabalhadores em Transportes e
Logística), Carlos Alberto Litti Dahmer reforçou
o argumento.
"A pauta que está sendo discutida agora
não é uma pauta dos trabalhadores do transporte,
não é uma pauta econômica. A pauta econômica
que deve ser mantida e levada, independente
do governo".
"Não necessariamente é o caminheiro que
está parando. Eles estão parados por causa dos
bloqueios. Existem alguns caminhoneiros que
estão apoiando. Mas não é a categoria no geral
que está fazendo", afirmou o presidente
da ANTB (Associação Nacional de Transportes
do Brasil), José Roberto Stringasci.
Um dos apoiadores dos bloqueios, o caminhoneiro
Janderson Maçanero, conhecido como Patrola,
confirmou à BBC que a maioria dos manifestantes
sem sua cidade, Itajaí (SC), são pessoas de
diferentes profissões. Ele afirmou que a duração
do movimento dependerá do posicionamento de
Bolsonaro.
"Estamos esperando ele falar. Ou Bolsonaro
vai à guerra, ou ele se extinguirá do cenário
político, porque aí ele não é o líder que pensávamos",
disse, ressaltando que não apoiaria um golpe
militar.
Fonte:
FolhaPress, por Nicola Pamplona, Cauê Fonseca
e Felipe Nunes
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