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(FOLHAPRESS)
- O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) atingiu
o menor nível de popularidade na internet dos
últimos quatro anos após os ataques golpistas
em Brasília no domingo (8), segundo o Índice
de Popularidade Digital (IPD), sinalizando racha
na base bolsonarista e incerteza sobre o potencial
mobilizador do líder.
Bolsonaro registrou nesta segunda-feira (9)
a marca de 21 pontos no indicador, que varia
de 0 a 100 e é calculado diariamente pela empresa
de pesquisa e consultoria Quaest. No sábado
(7), antes da ação dos vândalos, seu desempenho
estava na casa dos 40 pontos. O saldo dos atos
de terrorismo na capital federal foi, portanto,
negativo para o ex-mandatário em um terreno
que lhe é caro, o virtual.
O pico da popularidade do então presidente foi
em 7 de outubro, entre o primeiro e o segundo
turno, quando chegou a 88,1 pontos —melhor performance
desde que o índice passou a ser diário, em janeiro
de 2019.
Como mostrou a Folha, os resultados de Bolsonaro
no IPD vinham em declínio desde a derrota para
o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O petista teve nos primeiros dias de mandato
em torno de 70 pontos no monitoramento de popularidade.
Para Felipe Nunes, diretor da Quaest e professor
de métodos quantitativos da UFMG (Universidade
Federal de Minas Gerais), perder influência
nas redes sociais é uma derrota significativa
para Bolsonaro, líder político que ascendeu
e se estabeleceu a partir da agitação nesse
ambiente.
O IPD é calculado por meio de um algoritmo de
inteligência artificial que coleta e processa
152 variáveis das plataformas Twitter, Facebook,
Instagram, YouTube, Wikipédia e Google.
São consideradas na nota final cinco dimensões:
fama (número de seguidores), engajamento (comentários
e curtidas por postagem), mobilização (compartilhamentos),
valência (proporção de reações positivas e negativas)
e interesse (volume de buscas).
O peso que cada dimensão tem na conta é determinado
por um modelo assimilado pela máquina a partir
dos resultados reais de eleições anteriores,
com milhares de candidaturas monitoradas pela
empresa.
Segundo Nunes, que também é cientista político,
a postura lacônica de Bolsonaro após a derrota,
com o longo silêncio quebrado apenas por declarações
dúbias a seus simpatizantes e, ao fim, a viagem
para os Estados Unidos antes do término do mandato
dividiram o capital dele no espaço digital.
“O IPD mostra que, se o objetivo das manifestações
era atingir a popularidade e a governabilidade
do presidente Lula, o que aconteceu, na verdade,
foi que os atos atingiram a credibilidade do
bolsonarismo, dificultando o trabalho da oposição,
já que ela está sendo associada àqueles eventos”,
diz ele.
Nunes classifica como “muito representativo”
o recorde negativo de Bolsonaro pelo fato de
o bolsonarismo ter se fundado e se fortalecido
com estratégia voltada a redes sociais.
Em análise isolada sobre os dados que compõem
o IPD, o pesquisador diz que o ex-presidente
mantém força considerável em critérios como
fama e mobilização, mas se desidratou especialmente
no quesito valência.
“Significa que a imagem dele está mais negativa
porque há mais comentários negativos sobre ele.
E também porque ele não consegue, ou não quer,
produzir uma articulação mais coordenada. Em
resumo, ele perde um ativo que foi importantíssimo
para ele na Presidência da República”, afirma.
No dia dos ataques às sedes dos Poderes, Bolsonaro
publicou no Twitter que depredações “fogem à
regra” da democracia. “Ele, de certa maneira,
condena os atos, mas a posição tem uma ambiguidade”,
observa Nunes. O ex-presidente fechou o domingo
com 22,1 pontos no IPD, marca levemente superior
à do dia seguinte.
Outra queda brusca relevante na pontuação tinha
sido perto do 7 de Setembro de 2021. Após insuflar
manifestações e sinalizar à base desobediência
civil e flerte com golpe, Bolsonaro divulgou
uma carta em tom de recuo, articulada na época
pelo ex-presidente Michel Temer (MDB).
Com a militância radical frustrada, a popularidade
dele caiu de 81,8 pontos no Dia da Independência,
uma terça-feira, para 53,7 na quinta, dia da
publicação da carta colocando panos quentes,
e 37,1 na sexta.
“A base bolsonarista hoje está rachada, e dividir
a base resulta em perda. Todas as vezes ao longo
da campanha eleitoral que Bolsonaro radicalizou
o discurso, a popularidade caiu. Agora, com
seu nome associado aos eventos em Brasília,
ele acaba prejudicado na seara digital”, afirma
Nunes.
Folhapress, por Joelmir Tavares
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