|
Por
Cilene Pereira
Istoé - 12 Jun 2009 |
|
Quando
as coisas não vão lá muito bem no relacionamento
amoroso, uma das desculpas femininas clássicas
para não fazer sexo com o parceiro é alegar
uma dorzinha de cabeça. Se depender da recomendação
de especialistas no tratamento da doença,
o argumento vai perder qualquer relevância.
Manter uma boa vida sexual, ativa e prazerosa,
é uma ótima maneira de melhorar a estratégia
de prevenção da ocorrência de crises de
enxaqueca, um dos tipos mais sérios de cefaleia
(o nome científico da dor de cabeça). Por
isso, a orientação começa a se tornar mais
frequente na lista de atitudes que podem
ajudar no controle da dor. |
|
CÉREBRO
Uma vida sexual ativa ajuda o corpo a produzir
substâncias que aliviam a dor |
|
|
O
sexo, de fato, propicia benefícios para o organismo
que vão além do prazer. A prática regular, por
exemplo, diminui o stress, fortalecendo o sistema
de defesa do corpo. Sabe-se, afinal, que quanto
menos tensão, menor a liberação de hormônios que
prejudicam o funcionamento das células integrantes
do sistema imunológico. |
|
 |
Em
relação à enxaqueca, o processo é outro.
O sexo estimula a liberação de serotonina
e dopamina, duas substâncias que fazem
a comunicação entre os neurônios do sistema
do cérebro responsável pela modulação
da resposta do corpo à dor. É ele, por
exemplo, que determina a produção das
endorfinas, um grupo de compostos que
contribui para a sensação de bemestar
e também para o alívio da dor. Portanto,
a maior presença de serotonina e dopamina
significa que as células nervosas presentes
nessa área cumprem melhor sua função,
o que resulta em uma disponibilidade mais
abundante de endorfinas.
Mas, para que esses efeitos sejam sentidos,
é preciso regularidade e prazer. "É
preciso fazer sexo, com orgasmo, no mínimo
quatro dias por semana", afirma o neurologista
Abouch Krymchantowski, especialista no tratamento
da dor de cabeça.
Nas
suas prescrições, o médico sempre inclui
a prática do sexo. "Digo para meus
pacientes que isso é crucial", conta.
|
AÇÃO
Depois que passou a se exercitar, Catalina
sofre menos crises da doença |
|
A
especialista Carla Jevoux, do Rio de Janeiro,
é outra que orienta seus pacientes neste sentido.
"Uma vida sexual ativa contribui para a prevenção
de crises", diz. Não se sabe ainda se o sexo
promove os mesmos benefícios quando a dor se insinua.
"Há relatos de pacientes que melhoram, se
mantiverem relações, e outros que pioram",
explica Abouch.
A indicação para que os pacientes mantenham a
qualidade de seus relacionamentos sexuais faz
parte de uma linha de controle da doença que ganha
força nos consultórios médicos. Ela é baseada
na troca de hábitos prejudiciais, como horários
irregulares para dormir, por outros, mais saudáveis
- sabe-se, por exemplo, que evitar o consumo de
alimentos gordurosos, como chocolates e queijos
muito amarelos, é uma boa medida preventiva.
Um estudo publicado recentemente na revista científica
Headache - uma das mais importantes na especialidade
- fortalece a convicção de que se está no caminho
certo. De acordo com o trabalho, a prática regrada
de exercícios diminui o número de crises de enxaqueca.
A constatação, inclusive, derruba um senso comum
entre pacientes de que a atividade física agravaria
os quadros. No estudo, os pesquisadores da University
of Gothenburg, na Suécia, acompanharam 20 pacientes
submetidos a um programa especial de treinamento.
Ao longo de três meses, eles participaram de três
sessões semanais de exercícios aeróbios em bicicleta
ergométrica - pedalavam por 40 minutos.
diminui o número de crises de enxaqueca. A constatação,
inclusive, derruba um senso comum entre pacientes
de que a atividade física agravaria os quadros.
No estudo, os pesquisadores da University of Gothenburg,
na Suécia, acompanharam 20 pacientes submetidos
a um programa especial de treinamento. Ao longo
de três meses, eles participaram de três sessões
semanais de exercícios aeróbios em bicicleta ergométrica
- pedalavam por 40 minutos.
No Brasil, a designer Catalina Baeza, 33 anos,
experimenta esses benefícios.
"Tinha crises toda semana", conta. "Depois
que passei a me exercitar, passaram a ser uma
ou duas por mês."
As razões que levam a esses efeitos serão investigadas
mais profundamente em outros trabalhos. Mas o
que se sabe é que, a exemplo do sexo, os exercícios
aeróbios também têm impacto positivo sobre o sistema
responsável pela reação do corpo ao estímulo de
dor.
Um dos ganhos de se investir em alternativas como
essa é reduzir a dependência de remédios. Quanto
mais numerosas forem as chamadas opções não medicamentosas
de prevenção e tratamento, melhor para os pacientes.
"O tratamento das cefaleias pode ser um desafio
para os médicos", afirma o neurologista Peter
Goadsby, do Centro de Dor de Cabeça da Universidade
da Califórnia, nos Estados Unidos. "Nem todos
os pacientes toleram bem as medicações e os efeitos
colaterais podem colocar os especialistas na difícil
situação de dispor de poucas alternativas",
diz.
|
|
O
especialista está conduzindo um estudo sobre uma
possibilidade de tratamento interessante. Ele
e sua equipe estão testando a eficácia da implantação,
no cérebro, de um neuroestimulador - um chip que
regula a emissão de sinais elétricos pelos neurônios.
Sabe-se que o desequilíbrio na produção desses
sinais está associado à dor. Chamado
Bion, o recurso é colocado perto do nervo occipital
(atrás do pescoço) e alivia a dor por meio de
pulsos recebidos pelo canal nervoso. Foram
selecionados seis pacientes. Ao término de 21
meses, quatro reportaram redução substancial da
dor - em torno de 80% a 95%. Um teve diminuição
de 30% e o outro, 20%.
Na mesma linha, pesquisadores da Universidade
de Ohio estão verificando a eficácia da estimulação
magnética transcraniana. O recurso, já usado para
tratamento de outras patologias, como a depressão,
também tem por objetivo interromper a emissão
desordenada dos sinais elétricos. Os resultados
dos testes feitos até agora apontam melhora da
dor.
Na Austrália, médicos fizeram uma revisão de estudos
que haviam sido realizados sobre a oxigenoterapia
- método que consiste na inalação de oxigênio
puro em condições distintas de pressão. Eles concluíram
que o recurso também é útil. "Pode ser uma
boa opção para pacientes que não respondem mais
a outros tratamentos", afirmou Michel Bennett,
da Divisão de Medicina Hiperbárica do Prince of
Wales Hospital, em Sydney, na Austrália. |
|
|