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Levados
pelo folclore do 'advogado ganha bem', profissionais
são inseridos em linhas de produção, trabalham
até 12h por dia e abandonam a ocupação. |
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26/06/2021
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os dias, a ex-advogada Laura* tinha que cumprir
o decoro para ir ao trabalho. Sempre calçava salto
alto e usava roupas caras, que custavam parte
do salário dela, em média R$ 1,5 mil.
No caminho para o escritório, ela tinha vontade
de chorar, mas não importava. Todos os dias, era
preciso vestir as aparências para ser chamada
de “Dra. Laura”.
A frustração com um trabalho mecanizado, a pressão
em escritórios, o salário abaixo do esperado e
o descumprimento de direitos trabalhistas levam
advogados como Laura a adoecer e abandonar a profissão.
Desiludidos com a promessa não cumprida de um
emprego dos sonhos, alimentada pelo imaginário
popular, são profissionais que entendem ter sido
enganados por um folclore - aquele do advogado
rico, envolto em glamour.
Nos últimos três anos, 620 advogados pediram licenciamento
na Ordem dos Advogados do Brasil, seção Bahia
(OAB-BA). De 2019 para 2020 o número saiu de 184
para 301. O licenciamento serve para afastamentos
temporários. Uma das três justicativas para pedir
a licença é sofrer “doença mental considerada
curável”.
As outros duas são ter “motivo justificado”, como
ir estudar no exterior, e ter “atividade incompatível
com a advocacia”, como ocupar cargo político.
Dos 43 vereadores eleitos em Salvador no ano passado,
sete são advogados.
Houve, ainda, desde 2019, 458 cancelamentos de
registro. Quando o advogado cancela o registro
por vontade própria, ele só pode voltar a advogar
se fizer um novo exame da ordem, exigido para
bacharéis em Direito advogarem.
A ex-doutora Laura abandonou a advocacia aos 28
anos, com seis de formada e experiência em dois
escritórios. Como ela, quatro amigas deixaram
o setor. Uma delas virou blogueira.
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Outra
saiu do país. Todas passaram “a detestar advogar”.
Nos intervalos para buscar café na copa do escritório
onde trabalhou de 2016 a 2018 ou no happy-hour,
não dava outra - a pauta era o escritório.
O Ministério Público do Trabalho mostra que, de
2012 a 2020, na Bahia, três a cada dez afastamentos
de advogados foram por transtornos mentais ou
comportamentais, como a depressão e a ansiedade.
A média de afastamentos por esse motivo cai para
4% na média de todas as profissões.
O antigo escritório onde Laura trabalhava fica
na Avenida Tancredo Neves, meca dos escritórios
de advocacia de Salvador, e é um dos maiores do
Brasil. Na recepção, há um imponente lustre de
vidro.
O dono do escritório é conhecido como admirador
das artes, decorando seus escritórios com quadros
de grandes artistas brasileiros e estrangeiros.
Aquele era o cenário onde Laura passava a maior
parte do dia, vidrada no computador.
O salário do mês dependia de “bater meta”, o que,
por sua vez, exigia dela até 12 horas de serviço.
“Era uma coisa insana, entrava cedo e às vezes
tinha que sair 22h”, recorda. Hoje, Laura tem
outra profissão sem conexão com o judiciário,
mas que será preservada para evitar a identificação
dela.
Um em cada cinco advogados
ganha até R$ 1 mil
Nos dois
anos que passou no antigo escritório, Laura migrava
de função, assim como os colegas, conforme as
demandas. Lá, são atendidas 14 especialidades.
Na maior parte do tempo, ela exerceu funções que
considera “robotizadas”. Uma delas consistia em
analisar apenas uma parte do processo e enviar
as demais para outros setores. Cada um deles cuidava
de uma porção do todo.
Quanto mais processos ela despachasse, maior era
considerada sua produtividade e, por isso, melhor
o salário. Houve meses que Laura ganhou R$ 4 mil,
“a muito custo”, recorda.
“Funcionava como uma linha de produção. O serviço
não tinha nada a ver com o de um advogado”.
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Clique
no link abaixo e leia a íntegra da matéria no
Correio 24 horas |
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Fonte:
Correio 24 Horas, por Fernanda Santana |
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