Um
idoso de 83 anos que morava no Rio de Janeiro
morreu, em setembro de 2019, e deixou R$ 8,5 milhões
investidos em um plano de previdência privada
de um banco.
Dias após a morte, três funcionários do banco
do qual o idoso era cliente transferiram esse
dinheiro para as contas dos cônjuges de dois deles
e depois compraram casa e veículos, segundo o
Ministério Público do Estado do Rio (MP-RJ), que
denunciou o grupo por associação criminosa, furto
duplamente qualificado e lavagem de capitais.
Um dos acusados foi preso nesta quinta-feira,
5, depois de tentar convencer a viúva a assinar
um documento afirmando que o marido havia doado
esse dinheiro aos gerentes e ser indiciado também
por coação.
O
idoso morreu em 3 de setembro de 2019. Um dia
depois da morte, a gerente-geral da agência bancária,
Ana Gabriela Saloto, ligou para a central de atendimento
do banco e disse estar ao lado do cliente, que
desejava resgatar todo o valor aplicado no plano
de previdência privada.
“Eu estou com um cliente aqui porque ele está
tentando fazer uma movimentação na aplicação dele,
tá? Ele está indo para Portugal”, afirmou a gerente,
que então passou o telefone para uma pessoa que
se passou pelo cliente morto. A atendente então
perguntou: “O senhor confirma o resgate total?”
e o suposto cliente respondeu: “Pode fazer, pode
fazer. Eu estou muito chateado, eu não queria,
para mim estava aplicado tudo em poupança isso,
já tem um tempo. A gente acaba deixando as coisas…
Meu Deus, é muito alto esse imposto.”
Para confirmar esse tipo de operação, o banco
também liga para o cliente perguntando se ele
realmente quer fazer a transferência. A gerente
geral da agência forneceu à central de atendimento
do próprio banco um telefone celular de Rafael
de Souza Ferreira, que era gerente da conta do
idoso morto.
Acionado pelo telefone, ele confirmou o desejo
de resgatar o valor investido. Na tarde de 4 de
setembro, após uma fraude praticada por dois gerentes
do banco, todo o valor da aplicação (R$ 8.546.069,96)
foi transferido do plano de previdência privada
para a conta do cliente morto.
Em 9 de setembro, por ordens dos próprios gerentes,
foram emitidos dois cheques administrativos, cada
um no valor de R$ 4.273.000,00, para transferir
dinheiro da conta do idoso.
Um cheque foi em nome de Michell Carneiro Saloto,
marido da gerente Ana Gabriela, e outro em nome
de Wanessa Christiny Coutinho Ferreira, mulher
do gerente Ferreira. Do total de mais de R$ 8,5
milhões a que a viúva teria direito, restaram
na conta do marido morto R$ 69,96. |
Com
o dinheiro furtado, os funcionários do banco compraram
carros e outros bens, segundo o MP-RJ. Ferreira
comprou uma casa de luxo na zona norte do Rio,
por R$ 900 mil. Em 2020, ele e Ana Gabriela pediram
demissão do banco.
Além da viúva e de seu advogado, também um mecanismo
de segurança do próprio banco identificou a fraude
e acionou a Delegacia de Roubos e Furtos do Rio
de Janeiro, que iniciou a investigação e indiciou
o grupo.
Ao saber que a polícia investigava o golpe, Ferreira
foi à casa da viúva e tentou convencê-la a assinar
um documento reconhecendo que seu marido havia
decidido doar a quantia investida no plano de
previdência privada para os gerentes do banco.
Ela se negou a assinar e, junto com seu advogado,
foi ameaçada. Essa conduta foi informada à Polícia
Civil, que abriu novo inquérito contra o ex-gerente,
agora por coação, e pediu à Justiça a prisão de
Ferreira. Ele foi preso na quinta-feira, na casa
que comprou possivelmente com o dinheiro do cliente
morto.
O Estadão tentou localizar os advogados dos acusados,
sem sucesso até a publicação desta reportagem.
Fonte:
IstoÉ, por Estadão Conteúdo.
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